Wellington Serrano -
Prestes a completar 30 anos, essa semana, de serviços prestados na Polícia Militar do Rio de Janeiro, o comandante do 7º BPM de São Gonçalo, Ruy França, de 50 anos, está há cinco meses à frente de um dos batalhões mais violentos do Estado, cujos policiais foram responsáveis pela execução da juíza Patrícia Acioli, deixando ainda mais arranhada a imagem da corporação. Segundo ele, a responsabilidade de recuperar a autoestima da tropa e a confiança da população é um desafio constante.
Ruy França já trabalhou nos batalhões de Niterói, onde foi secretário municipal de Segurança durante governo do prefeito Rodrigo Neves, Méier, Cabo Frio e Itaboraí. Mas, segundo ele, o compromisso para não decepcionar o povo sofrido de São Gonçalo gera muita expectativa.
É um desafio. Assim como meus outros comandos. Quando assumimos encontramos um diagnóstico e alguns relatórios que sinalizaram a necessidade de estabelecermos algumas dinâmicas diferenciadas para buscar resultados mais favoráveis. Ao mesmo tempo havia certo anseio da tropa em razão da movimentação que já estava sinalizada e ao meu nome nesta chegada e isso naturalmente aumentou a responsabilidade para realizar um trabalho que esteja à altura dessa expectativa. Então, não é só internamente, mas meu compromisso é com as pessoas de bem que são da região e ao meu comandante Geral da PM, Wolney Dias, que me confiou esse trabalho. Não quero decepcioná-los, disse.
Na busca por resultados favoráveis, Ruy França explica que assim que tomou o rumo das coisas imediatamente traçou algumas estratégias a curto, médio e longo prazos para controlar a situação. Segundo ele, as primeiras estratégias imediatas foram para reorganizar as atividades internas e conter o expressivo aumento no número de roubo de cargas e de veículos no município, que em março atingiu chegou a 600 carros roubados, uma média de 20 carros por dia.
Venho de outros batalhões e este fenômeno não é específico de São Gonçalo, é do Estado do Rio de Janeiro inteiro. Vamos buscar informações com nossos companheiros de outras unidades para aumentar a presença da polícia nas ruas e diminuir o número de roubo de veículos na região e minimizar em até oito meses os efeitos dessa ação específica dos marginais, destacou.
O comandante explica que a reorganização das atividades internas está ligada ao equilíbrio dos interesses e vontades aos recursos que estão disponíveis. Dentro deste cenário de crise que estamos passando essa falta de elementos de recursos humanos e materiais é o desafio é grande, mas estamos enfrentando essa dificuldade com criatividade, dinamismo e união para que as boas ações deem certo, afirmou.
Segundo ele, São Gonçalo tem um adensamento populacional maior, com uma diferença social muito grande. Isso naturalmente impacta também alguns indicadores. Temos que ter a consciência que estamos numa cidade com mais de um milhão de habitantes, com uma diferenciação de classe muito grande caracterizada por uma população socioeconômica de média para baixo. Então natural que tenhamos problemas em razão dessas características específicas de São Gonçalo, mas que não são diferentes de outras regiões, realçou o comandante.
ROUBO DE CARGAS
Segundo o comandante, o roubo de cargas na BR-101 vem sendo uma nova modalidade especificamente adotada pelos traficantes na região por ser mais rentável. Não podemos adotar esse discurso de que o roubo de cargas acontece numa rodovia federal e não temos nada a ver com isso. Não podemos virar as costas para este problema que acontece ali porque impacta os municípios no entorno. Em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), num primeiro momento estamos com operações para evitar a ação direta dos traficantes do Salgueiro, revelou França.
No entanto, o comandante disse que está sendo complicado operacionalizar no local. Esperamos através de conversas e sinalizando essa preocupação com o Comando Regional da PM e com o Estado Maior, que a gente tenha um suporte maior para que possamos operar no Salgueiro com mais força para minimizar o efeito da ação do tráfico e em cima do roubo de cargas, falou.
Segundo o comandante, a modalidade criminosa rende muito lucro e teve um aumento expressivo a partir do fim do ano passado. Os traficantes estão percebendo que o roubo a carga rende mais que o tráfico, apontou. Ele revela que o tráfico nesta nova modalidade deixa muito claro que aquela visão que as pessoas tinham de uma ação benéfica, tipo Robin Hood, não existe. Quando eles (os traficantes) levam uma carga para dentro da comunidade, já tem uma rede de receptadores aguardando aquele material para fazer a distribuição para outros segmentos e isso tem que ter um trabalho mais específico em cima para que a gente possa minimizar o efeito da ação destes traficantes no roubo de carga, lamentou.