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Época de ouro da emissora marcou a história do rádio no Brasil
Do alto do primeiro arranha-céu da América Latina, o edifício A Noite, localizado na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, uma nova era teve início em 12 de setembro de 1936. Com o nome de Sociedade Rádio Nacional, começava a funcionar mais uma emissora comercial, semelhante a outras daqueles tempos. Mas tudo mudaria em 1940, após ser encampada pelo presidente Getúlio Vargas, que precisava de um veículo que fosse a voz oficial do governo.
Da antiga capital brasileira para todo o território nacional, um projeto de identidade nacional por meio da radiodifusão tomava forma. A agora Rádio Nacional dava início à era de ouro do rádio no Brasil, com ênfase na música popular brasileira e na transmissão de uma imagem positiva para o país e o exterior.
Mesmo com a estatização, a emissora continuou atuando de forma comercial, atraindo novos patrocinadores e promovendo mudanças que levaram à profissionalização do elenco radiofônico, com contratos de exclusividade. Outro destaque foram as ondas curtas, que faziam a programação chegar a todo o Brasil e ao exterior, tornando a Rádio Nacional um sucesso em sintonia por todo o Brasil.
Já na estreia da Rádio Nacional, em 1936, o clássico Luar do Sertão, de João Pernambuco, já soava nos aparelhos. Mas a música popular brasileira ganhou ainda mais destaque pelas mãos de Henrique Foreis Domingues, o Almirante, conhecido como "a patente mais alta do rádio".
Almirante estreou, em 1938, o programa Curiosidades Musicais, que trazia conhecimento cultural ao ouvinte. Suas inovações continuaram e apresentando o programa Caixa de Perguntas, ele trouxe um formato hoje muito conhecido dos telespectadores: quiz em auditórios.
Quando começou a desenvolver a sua programação, não teve para mais ninguém, afirma Osmar Frazão, ex-diretor da emissora na década de 90 e apresentador do Histórias do Frazão, que todo domingo de manhã relembra na Rádio Nacional do Rio de Janeiro os cantores do período áureo.
E foram muitos artistas! O palco da Nacional recebeu talentos como Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Silvio Caldas, Francisco Alves, as irmãs Linda e Dircinha Batista, Ellen de Lima, Nora Ney, Adelaide Chiozzo, Ademilde Fonseca, Heleninha Costa, Vera Lúcia, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Elizeth Cardoso, o Garoto, Emilinha Borba e Marlene, entre outros.
Inaugurado em 1942, o auditório do Edifício A Noite recebeu programas que popularizaram o gênero, como os de Paulo Gracindo, Manoel Barcelos e César de Alencar.
Em uma época em que a TV ainda não chegara, ir ao auditório era a oportunidade de conhecer e ver ao vivo as vozes que invadiam as residências. Eram quase 500 lugares sentados e mais outros em pé, que vibravam com novos talentos que surgiam. A música popular brasileira era o grande destaque, com baião, marchinhas e outros gêneros.
Para acompanhar esses cantores, as rádios possuíam suas orquestras, que contavam com regências de maestros como Radamés Gnattali, além de grandes arranjadores da nossa música popular brasileira, como Guerra-Peixe e Lyrio Panicali e o próprio maestro Gnatalli. Esses nomes todos davam à Nacional a musicalidade que o Brasil merecia, reforça Frazão.
E é dentro dos programas de auditório que surgem dois dos maiores fã-clubes de artistas da Nacional: os de Emilinha Borba e Marlene, duas das rainhas do rádio. Entre 1949 e 1952, reinou a cantora Marlene. Em 1953, foi a vez de Emilinha Borba se consagrar e tornar-se a Rainha do Rádio.
A historiadora Lia Calabre conta que os fãs eram comparáveis hoje às torcidas organizadas de time de futebol. Eles faziam festa, mandavam presentes, se organizavam em caravanas, afirma.
Emilinha era uma das estrelas do programa de César de Alencar. Já Marlene era do programa de Manoel Barcelos. Ter programas com as rainhas significava que a rádio tinha uma capacidade e uma potência de atração de público muito grande, explica Lia.
No auge da Nacional, publicações especializadas, como a Revista do Rádio e a Radiolândia, mostravam a vida do elenco da emissora. Tinham o papel fundamental de aproximar o fã do seu ídolo, acrescenta Lia.
Outra grande paixão dos brasileiros surgiu com as radionovelas da Nacional. A primeira delas foi Em Busca da Felicidade , lançada em junho de 1941. A história, adaptada por Gilberto Martins, do texto original do cubano Leandro Blanco, alcançou excelentes índices de audiência, num público que se tornaria o principal para esse gênero: as donas de casa.
A emissora passou a produzir inúmeras radionovelas - como a famosa Direito de Nascer - em vários horários da programação. Não foram apenas adaptações de textos estrangeiros, mas o começo de uma leva de produções feitas por autores brasileiros. O sucesso das tramas ocorria devido à identificação do público com os personagens, segundo a jornalista e professora Sônia Virgínia, um das autoras do livro Rádio Nacional - o Brasil em sintonia.
O jornalismo se transformou na Nacional com o Repórter Esso. A "testemunha ocular da história" completou 80 anos no último dia 28 de agosto, e transmitiu notícias que marcaram época, como o fim da Segunda Guerra Mundial e o suicídio de Getúlio Vargas. Heron Domingues foi o apresentador de maior destaque.
O Repórter Esso primava pela pontualidade e capacidade de síntese. Era o primeiro a dar as últimas e, mesmo que não fosse, as pessoas só acreditavam quando ele falava, como no anúncio do fim da guerra em 1945. "Cria a ideia de jornalismo verdade", explica Lia.
O modelo de jornalismo radiofônico anterior, de leitura de matérias dos jornais, é modificado. A maneira como o Repórter Esso dava a notícia tinha urgência, força e ênfase em determinadas palavras.
A televisão no Brasil, que teve início em setembro de 1950, fez com que o elenco da Rádio Nacional migrasse aos poucos para as telas. Com salários melhores e a oportunidade de serem vistos pelo público direto do conforto do lar, os artistas viram no novo meio de comunicação um caminho promissor a ser seguido.
A televisão não levou apenas os artistas. Autores como Dias Gomes e Janete Clair continuaram o sucesso que tinham nas ondas do rádio na telinha. Programas humorísticos, como o famoso Balança, mas não Cai, estrelado por atores como Paulo Gracindo e Brandão Filho, se adaptaram ainda mais à programação televisiva.
Com a chegada da TV e a migração de boa parte do elenco da Nacional, a emissora teve que se adequar aos novos tempos e público, sem deixar de lado a música e o jornalismo. As produções de radionovelas, estrelas da Nacional, perderam força com a saída dos atores.
Frazão reforça que a emissora é a rainha da radiofonia brasileira. "Não existe quem nunca ouviu falar da Nacional. A história do rádio é a história da Rádio Nacional", explica o ex-diretor.
O famoso auditório chegou a voltar no início dos anos 2000, mas sem a força de antes. Em 2012, a emissora saiu da Praça Mauá e está até hoje na Lapa.
A Nacional atualmente tem na grade do Rio atrações como Musishow, Ponto do Samba, Revista Rio, Sintonia Nacional, Histórias do Frazão, além dos programas em rede, como No Mundo da Bola, Bate Bola Nacional e Tarde Nacional. Neste ano, passou a operar na 87,1 FM.