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No espetáculo político do estado do Rio de Janeiro, quem pensou que a cenografia seria definida pelo Partido Liberal, com seus mais de 20 prefeitos e 2 senadores, enganou-se. Isso porque, apesar de todo esforço e poder que concentra, o governador fluminense Cláudio Castro (PL) ainda não conseguiu o papel de protagonista do espetáculo. A cena e o papel principal lhe foram subtraídos pelo prefeito carioca Eduardo Paes (PSD), que simplesmente inverteu a lógica do show, ao fazer com que todos os pretensos candidatos à sucessão estadual ficassem na expectativa de sua atuação.
A caneta do governador até pode ter mais tinta. Mas, como eleição se define é no voto, o capital político de Paes está pesando muito mais na balança do mercado político. O governador até pode comprar o teatro e montar o espetáculo. Mas o seu público ainda é uma incógnita. Já Eduardo Paes vem de uma eleição mais recente, com mais de 1,6 milhão de cariocas tendo votado nele para prefeito em plena pandemia.
Paes também já foi candidato ao governo do RJ, em 2006, conquistando pouco mais de 5% dos votos, e em 2018 perdeu para o já cassado Wilson Witzel, de quem Cláudio Castro era vice.
Enquanto parte da mídia carioca prefere se alimentar de especulações sobre a relação de Paes com o seu vice, Nilton Caldeira, do PL, que é muito boa, o prefeito Eduardo Paes trabalha pela recuperação econômica do Rio pós pandemia e articula alianças que vão muito além destas questiúnculas, revela uma fonte do Piranhão.
De fato, Paes, mesmo ainda em um período delicado da pandemia, vem dando declarações entusiasmantes com relação à retomada das atividades econômicas mediante a volta de grandes eventos, como a liberação de público em estádios de futebol, e a realização do réveillon e do carnaval em 2022.
Isso acontece ao mesmo tempo em que ele senta com todas as correntes políticas do estado, dando a todos a esperança de seu apoio. Apesar de ter lançado Felipe Santa Cruz como seu candidato, Paes já dialogou com Marcelo Freixo (PSB), em reunião onde também estavam presentes o ex-presidente Lula, e o ex-prefeito de Maricá, Washington Quaquá. Depois, teve encontro com Rodrigo Neves e Ciro Gomes (PDT) e, na semana passada, esteve no Palácio Laranjeiras com o próprio governador Cláudio Castro (PL). Tal como uma noiva cortejada por vários pretendentes.
Há de se considerar, ainda, que o próprio Paes é um potencial candidato ao governo do estado e em meio à essas conversas com todos os lados, acaba não sendo alvo de nenhum deles. Potencial este que pode levá-lo a ser vice na chapa presidencial de Lula, atendendo à vontade de Gilberto Kassab, presidente nacional de seu partido, mas deixaria a prefeitura do Rio para o seu vice que é do PL, partido do governador Cláudio Castro.
O próprio Nilton Caldeira, vice-prefeito do Rio, e filiado ao PL, é considerado nos bastidores como um dos principais articuladores das conversas palacianas entre Paes e Castro. O governador, por sua vez, vem enfrentando uma missão quase impossível: distanciar-se do bolsonarismo sem perder o apoio dos bolsonaristas. Até porque não há certeza alguma de que o PL vá caminhar com Bolsonaro em 2022. Havendo o desembarque da legenda, há o temor de que uma candidatura mais alinhada à Bolsonaro possa atrapalhar o governador. O contrapeso ideal seria uma aliança com Paes.
E ainda há quem entenda que o fato de Eduardo Paes, nesta terça-feira (14), ter exonerado Bruno Bonetti (PL), da presidência da Companhia Municipal de Energia e Iluminação (RioLuz), seja algo muito relevante, Paes vem se colocando, sem ser oficialmente candidato, como o fiel da balança, e os demais como coadjuvantes.