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Pediatria, ginecologia, clínica, ortopedia, endocrinologia, emergência cardiológica, além de raio-x digital, ultrassonografia, eletrocardiograma e ecocardiograma. Todos estes serviços, deveriam estar disponíveis para a população maricaense em um terreno de 2.835 metros quadrados, onde era para estar funcionando a Policlínica de Cordeirinho. A pedra fundamental foi lançada em julho de 2020, no entanto, até o presente momento nenhum tijolo foi erguido para a construção da Unidade de Atenção Especializada em Saúde. A obra já recebeu verba do Governo Federal de R$ 3,9 milhões.
Resultado de uma emenda parlamentar no período em que o prefeito Fabiano Horta (PT) era deputado federal, a intenção seria desafogar o atendimento em postos de saúde que só vivem lotados e evitar que moradores do segundo distrito da cidade, que abrange localidades como Bambuí, Ponta Negra, Barra e Cordeirinho, se deslocassem até o Centro da cidade para buscar atendimento.
O atraso nas obras da Policlínica de Cordeirinho tem trazido um desserviço para a população em todos os aspectos. Vale ressaltar que os postos de saúde da cidade, por ter um espaço limitado na maioria deles, prejudica no atendimento ambulatorial e há superlotação. A conclusão dessa obra da Policlínica de Cordeirinho daria um fôlego para os profissionais de saúde, seria relevante neste aspecto para a população do segundo distrito e agilizaria dentro do cronograma de consultas o processo para melhorar a saúde da atenção básica para a população de Maricá, reclamou o líder comunitário Robinson Assis, de 45 anos.
Cerca de 32 mil pessoas do primeiro distrito seriam beneficiadas com a nova unidade. Se somados os moradores do segundo distrito, esse quantitativo chegaria a 75 mil pessoas. Outro que criticou a morosidade na construção da obra foi o vereador Ricardinho Netuno (Republicanos):
A pedido da população, estivemos recentemente na Rua 94 para saber como estão as obras desta unidade e para cobrar da Prefeitura da cidade a celeridade nesse processo. Até agora, a empresa contratada, apenas realizou serviços de fundação. O maquinário sumiu do local e até hoje o cenário visto é de total abandono. Não há previsão de começo e fim da conclusão desta Unidade de Atenção Especializada em Saúde. Vale ressaltar que há lotação nos postos de saúde acima da normalidade e a cidade com tanto dinheiro deixa uma obra importante para a população largada desse jeito", cobrou.
A construção da Unidade de Atenção Especializada em Saúde é de responsabilidade da Globotec Construções e Serviços Ltda, empresa que ganhou a licitação em 2018 e que está instalada na cidade de Maricá desde de 2000. A construtora deu a sua versão para o atraso.
Todo recurso federal, obrigatoriamente, tem que passar pela Caixa Econômica Federal naquilo que envolve processo de licitação, autorização de início das obras, pagamentos e demais coisas devem ser aprovados pela instituição. No entanto, tudo na CEF é extremamente demorado e quando a Globotec ganhou a licitação, por volta de abril de 2018, para se ter uma ideia, foram 12 meses para assinatura do contrato até a ordem de início das obras, explicou o advogado e engenheiro civil Marcelo José Antunes, de 48 anos.
Aumento de preços
Segundo o representante da Globotec, havia no período em que a empresa foi contratada, uma defasagem de preços nas tabelas das planilhas da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop) e do Sistema Nacional de Pesquisas de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi) do Governo Federal. As tabelas não teriam sido reajustadas devido o surgimento da pandemia, em março de 2020.
A nossa planilha orçamentária já era defasada, pois orçamento de obra pública, a gente não faz como sendo de obra privada, em que se levanta os preços e tal. Somos obrigados a seguir aquilo que eles publicam e damos o desconto em cima daquela planilha. Porém, esses preços vêm da Emop e do Sinapi e são abastecidos por um banco de dados de preço da própria Caixa Econômica Federal, relatou, completando que até o momento, apenas cerca de 100 fundações foram realizadas nas obras e o valor pago foi de R$ 600 mil pela etapa cumprida dentro do prazo do cronograma físico e financeiro exigido pela CEF.
Em seguida, foi reivindicado pela Globotec a paralisação das obras em virtude do aumento exorbitante no preço dos materiais de construção no período pós-pandemia e essa reivindicação continua tramitando dentro da Prefeitura de Maricá, que por sua vez aguarda um posicionamento do Governo Federal.
Essa rescisão de contrato foi pensada e o prefeito autorizou a fazer esse reajuste com recurso próprio para não parar a obra. Não é possível que um município licite R$ 3 bilhões de obras e não possa fazer uma policlínica de quase R$ 4 milhões sem ter que consultar a Caixa como órgão repassador. Isso é um absurdo, confidenciou Marcelo.
Prefeitura e Caixa divergem sobre valores e repasses
A TRIBUNA entrou em contato com a Prefeitura de Maricá que emitiu o seguinte comunicado
A Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informa que a obra é totalmente custeada com verba do Ministério da Saúde e foi paralisada por interrupção dos repasses pelo órgão, que só efetuou a primeira parcela no dia 21/07/2021. A previsão de entrega depende da regularidade do recebimento da verba. A unidade de Cordeirinho, no segundo distrito da cidade, será um centro de especialidades que dará apoio às Unidades de Saúde da Família vizinhas, e vai contar com obstetra, cardiologista, endocrinologista, pediatra, entre outros. O local também terá exames, como raio-x e ultrassonografia.
A TRIBUNA procurou também a Gerência do Governo da Caixa Econômica Federal, que também se manifestou através de nota.
A CAIXA esclarece que atua na condição de Mandatária da União nos Contratos de Repasse que utilizam recursos do Orçamento Geral da União (OGU), em conformidade com as exigências e requisitos constantes nos regramentos estabelecidos pelo Ministério Gestor do Programa e na Portaria Interministerial nº 424, de 30 dezembro de 2016. O banco informa que o questionamento diz respeito ao Contrato de Repasse nº 1027995-68, assinado em 30/12/2015, tendo como partes o Município de Maricá/RJ e o Ministério da Saúde, no valor de R$ 4.800.000,00 de repasse, sem contrapartida. Esclarecemos ainda que os recursos são liberados após a solicitação dos Municípios. No presente caso, o último pedido de recursos foi encaminhado à CAIXA em maio de 2021, com o montante correspondente já liberado pela CAIXA. Desde então, o banco solicitou informações ao Município sobre a retomada da obra e aguarda manifestação do Ente para a continuidade do contrato, diz o texto.
A paralisação da obra da Policlínica de Cordeirinho já chegou ao conhecimento do Ministério Público Federal (MPF), que encaminhou um ofício à Secretaria Municipal de Saúde de Maricá cobrando explicações.