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Um par de nadadeiras e uma grande pitada de coragem - ou loucura, dependendo do ponto de vista. Enquanto surfistas de ondas grandes arriscam as vidas em cima de uma prancha, Kalani Lattanzi faz o mesmo, mas só no peito, literalmente, e sem contar com a ajuda de um jet-ski para ser rebocado.
Kalani é nascido no Havaí, se mudou para o Brasil com seis meses e passou a morar em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Aos quatro, mudou-se novamente, para Niterói, no Leste Fluminense, onde vive até hoje.
Aos 29 anos, ele já rodou o mundo em busca da onda dos sonhos. No mar, é a versatilidade que assombra os especialistas: começou no bodysurf, popularmente conhecido como "jacaré", aos 12 anos. Depois, migrou para o bodyboard, até chegar no surfe, em 2012. Atualmente, ele pratica e compete nas três modalidades, mas tem suas preferências. Sua história de vida marcada pelo "vício" na adrenalina ganhou até mesmo um filme, em 2019.
"Eu prefiro surfar em pé, porém não é o que tenho mais confiança. O que tenho mais confiança é o bodysurf, o famoso jacaré. Cair em mar grande sem prancha é mais tranquilo do que com a prancha, porque é mais fácil furar as ondas. Quando o mar está maior, sem prancha fica mais fácil. Não tenho que me preocupar com a prancha para furar a onda", disse ao jornal A TRIBUNA.
Embora confie mais nas suas nadadeiras, foi em cima de uma prancha que ele pegou a maior onda de sua vida, em Nazaré, famosa por suas montanhas de água, em 2019: 15 metros. Mas ele também "tira onda" no bodyboard, tanto que foi campeão latino-americano aos 17 anos. Em cima da pranchinha de espuma, ele também levou o maior susto da carreira, no Dia das Mães de 2011, quando sua prancha quebrou no meio de uma ressaca no perigoso mar de Itacoatiara.
" Levar caixote é normal, só tem que se acostumar e gostar de levar caixote. Tem que estar preparado para levar séries na cabeça. Eu quase morri nesse dia. Não chegou a me traumatizar, mas posso dizer que me deu mais força. Para não morrer afogado, você tem que estar bem treinado e nadar para cima, porque quando a onda te pega, ela parece um liquidificador, você não consegue se mexer no primeiro momento", pontuou o casca-grossa.
O talento de Kalani sempre foi impulsionado por sua mãe, Cláudia Alvim, e por seu pai, o surfista Plínio Lattanzi. Tudo começou com uma brincadeira de criança, em Cabo Frio.
"Desde o dia que ele levou um caldo, quando era pequeninho, afundou e levantou rindo, eu percebi que ele era diferente", disse Cláudia em uma entrevista de 2020 ao Esporte Espetacular.
O waterman perdeu seu pai no dia 18 de janeiro de 2019, meses antes do documentário "Kalani - Gift from Heaven", que aborda sua vida, ser lançado, em 18 de novembro do mesmo ano. Plínio teve um ataque cardíaco fulminante enquanto surfava em Honolua Bay, na Ilha Maui, lugar que mais gostava no Havaí.
Um pouco da carreira
É simplesmente impossível enumerar todos os títulos e feitos da carreira de Kalani em uma página de jornal. Talvez não caiba nem em sua estante. Mas vale algumas menções, a começar pelo bodysurf.
Em março, por exemplo, ele foi campeão do 45º Pipeline Bodysurfing Classic, considerado o campeonato mundial da modalidade, no Havaí. Em 2015, foi o primeiro bodysurfer a surfar em Jaws, também na ilha havaiana. No ano seguinte, ganhou o prêmio Resiliência do Red Charges de Nazaré. Em Portugal, recebeu ainda uma homenagem na “Surf Wall” do Forte da Praia do Norte, que funciona como um museu e reverencia aqueles que tiveram desempenhos marcantes no famoso “Canhão de Nazaré”.
No bodyboard, ele não fica muito atrás. Entre os títulos, ele foi campeão brasileiro na Praia Mole, em Santa Catarina, em outubro do ano passado. Até quando o assunto é "caixote", ele se destaca. Em 2016, ele venceu o prêmio "Vaca da Temporada" e abocanhou 5 mil dólares, cerca de R$ 23 mil.