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Este mês, a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, chamado de Hidrogênio Verde, foi sancionada pela presidência da República, acompanhada de um discurso em prol das potencialidades do Brasil para a transição energética e o combate às mudanças climáticas.
Produzido através da eletrólise da água, uma reação química que decompõe os componentes da substância e é gerada por fontes de energia renováveis, como eólica ou solar, o hidrogênio de baixo carbono também pode ser obtido a partir de biomassa de rejeitos e hidroeletricidade.
Por isso, o professor do Departamento Química, Maurício Melo, e o professor do Departamento de Economia, Luciano Losekann, ambos da Universidade Federal Fluminense (UFF), abordaram as implicações da nova legislação sobre o hidrogênio verde, explorando a produção e o mercado do combustível sustentável no Brasil.
O que é hidrogênio verde e para o que ele serve?
Maurício Melo: O hidrogênio verde é produzido a partir de fontes totalmente limpas e renováveis, ou seja, sua obtenção não envolve o uso de fontes de energia de origem fóssil. Sua produção e utilização são consideradas caminhos viáveis para o estabelecimento de uma matriz energética mundial neutra em carbono.
Nesse processo, ele se contrapõe ao hidrogênio cinza - obtido a partir de combustíveis fósseis e sua produção envolve a emissão de dióxido de carbono - e ao hidrogênio azul, que também é obtido a partir de fontes fósseis, porém, o dióxido de carbono emitido durante a produção é capturado, consumido ou estocado através de tecnologias conhecidas como CCS (do inglês carbon capture and storage), tecnologias que capturam dióxido de carbono (CO2) das emissões industriais e o armazenam em locais subterrâneos para evitar que seja liberado na atmosfera evitando sua liberação para o meio ambiente.
O hidrogênio verde pode ser empregado como combustível para automóveis movidos por células a combustível, em sistemas de aquecimento e como reagente para a produção industrial de substâncias de interesse, como amônia e metanol, por exemplo.
Quais os benefícios do uso do hidrogênio verde? O investimento é compensatório?
Maurício Melo: No que diz respeito à geração de energia, o único produto gerado pela combustão do hidrogênio verde é água, diferentemente dos combustíveis fósseis que liberam poluentes à base de carbono, como o dióxido de carbono, que intensifica o efeito estufa, responsável pelo aumento da temperatura média do planeta. Além disso, ele é obtido através de fontes totalmente renováveis, diferentemente de combustíveis fósseis, o que garante o suprimento da demanda energética da sociedade por períodos mais longos. De um modo geral, além do hidrogênio verde ser limpo, não-poluente e renovável, ele também é versátil, estocável e, além de possuir uma grande densidade energética. Dessa forma, considero, sim, que um alto custo inicial para a implementação de uma nova matriz energética que inclua o hidrogênio verde seja extremamente benéfica para a humanidade como um todo.
O que os países podem fazer para diminuir os custos de produção e torná-lo acessível?
Luciano Losekann: Como é uma tecnologia nova, está em uma fase que ainda não tem custos competitivos. Então ainda depende de incentivos para adoção e esperamos que haja uma aposta global e que, em algum momento, esse subsídio, esse incentivo inicial, ele se traduza, criando maior competitividade no futuro, mas hoje a gente não verifica o hidrogênio como sendo competitivo frente a outras alternativas.
Para diminuir os custos de produção, os países podem utilizar políticas comuns de tratamento específico da cadeia produtiva e isenção tributária. Mas deve haver, principalmente, um esforço de pesquisa e desenvolvimento. Conceder fundos é interessante para que essa tecnologia se desenvolva e no futuro se torne mais competitiva. Alguns países já estão fazendo isso, por exemplo os Estados Unidos, com investimento em hardware, e a Europa que construiu uma série de fundos para fomentar o desenvolvimento tecnológico em hidrogênio verde.
A entrevista completa pode ser vista neste link.