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Silvio Santos, o maior comunicador do País e o Centro de Memória de Niterói
Silvio Santos, o maior comunicador do País e o Centro de Memória de Niterói
Foto do autor Mário Sousa Mário Sousa
Por: Mário Sousa Data da Publicação: 24 de agosto de 2024FacebookTwitterInstagram

Para além de suas convicções ideológicas para a direita, Silvio Santos, está sendo homenageado como o maior comunicador de TV neste século, após sua morte aos 93 anos. Foi, sem dúvida, o   maior comunicador popular deste país e, com vocação também para o empreendedorismo, construiu um império nas áreas de Comunicação e Entretenimento. 

Sua trajetória e sucesso passam pelo destino das oportunidades, pelo talento,  obstinação em crescer e, principalmente, por muita ralação, sola no pé, como camelô no Rio e na Praça Araribóia, em Niterói e, no dia a dia na travessia das barcas, antes da ponte Rio Niterói.  

 O Brasil começava a fase de redemocratização, após a ditadura do Estado Novo (1945), e o jovem   Silvio Santos,  nascido na Lapa, vendia capa para título de eleitor como forma de sobrevivência. Já naquela época sua voz chamava atenção, e um dia  foi aconselhado e convidado  a fazer um teste na Rádio Guanabara. Passou em primeiro lugar, mas em pouco tempo depois, preferiu ser  camelô porque ganhava melhor.  

Porém, seu talento como radialista já era conhecido, e foi convidado novamente para trabalhar em outra rádio,  a Rádio Continental, com sede em Niterói,  capital do Estado do Rio de Janeiro. 

 De radialista, a camelô  de  vendas de canetas na Praça Araribóia, Silvio inicia  sua trajetória de  animador e empreendedor ao analisar  que, durante o trajeto  das Barcas Niterói, as pessoas pareciam tristes , e, então, percebeu que poderia animá-las com pequenos shows, mágicas, brincadeiras e premiações.   

Conseguiu um aparelho de som e transformou a barca num auditório. Assim começa o futuro  projeto do programa de auditório “Silvio Santos vem aí”.    

Deu certo. O próprio  dono das barcas  o aconselhou a ir para São Paulo. Silvio pediu demissão da rádio  Continental e foi tentar a vida na nova cidade.  Sem dúvida, simbolicamente, o maior  animador de plateia na TV começa nas barcas de Niterói.  Seu sucesso cada vez cresce  até ser consagrado como o encantador de pessoas, referência para muitos animadores famosos que saíram de sua escola única de interagir com o público.  

Já na TV em São Paulo, sempre  se permitiu tudo, mesmo sendo  visto  como preconceituoso. Diante da diversidade de pessoas na plateia (pretas, gordas, com deficiências,  jovens e idosos, ele quebrava todo paradigmas  fazendo piadas com o grotesco, no estilo comédia  pastelão e,  aop ao mesmo tempo  dando aparente  voz a estas pessoas.  

Há quem discorde de tantas homenagens ao Senhor da Televisão, que deixa um legado único como  animador que sabia falar e chegar  a linguagem do povo.  

Quanto  a questão ideológica de Silvio Santos apoiou a Ditadura Militar de 1964 e, foi grande beneficiado  do governo Bolsonaro com suas práticas contra a Democracia. Outra questão que mancha a biografia de Silvio Santos foi sua batalha contra o dramaturgo José Celso Correa  por causa de um  terreno em São Paulo.  

Neste sentido, vale lembrar o dramaturgo  Nelson Rodrigues,  considerado o mais influente dramaturgo do Brasil, que  apoio apoiou o Golpe Militar   de 64 depois teve  suas obras censuradas pelo mesmo governo. Contradições  misturam-se a talentos, revelando as diferentes facetas neste caminhar da vida, e tudo isto ficará para avaliação histórica e na memória brasileira.  

Silvio Santos entra para o celeiro dos inúmeros e grandiosos artistas e comunicadores que nasceram, outros que apenas moraram e trabalharam em Niterói. Aliás, Carlos Manoel da Nóbrega, diretor do SBT, que deu acolhida a Silvio Santos, nasceu em Niterói. 

Nesta cidade, para alguns pesquisadores, é onde começou o teatro brasileiro com a encenação do Auto de  São Lourenço de autoria José de Anchieta; o compositor Milton Nascimento criou o Clube da Esquina,  em Niterói, quando aqui morou e também Vinicius de Moraes fez várias canções na sua passagem pela cidade as presenças marcantes do casal de pintores Hilda e Quirino Campofiorito.  

A lista de talentos nascidos na cidade é grande, entre outros que  

são exemplos da rica memória desta cidade; o músico Sergio  

Mendes, a atriz Nicette Bruno, o ator Paulo Gustavo, o pintor Antonio Parreiras, o jornalista Irineu Marinho, o escritor Antonio   

Callado, a atriz Leila Diniz, os cantores Cauby Peixoto e Ronnie Von,  a atriz  

Lilli Leitão, o ator Leopoldo Fróes, as bailarinas Juliana Yanakieva e Marcia  

Hayddée, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, o ator Murilo Benicio e a  

cantora Baby do Brasil.  

Poucos sabem que é de Niterói, nascido em Jurujuba, o compositor Ismael  

Silva, que criou a primeira escola de samba do País, “ A Deixa Falar”.  

No entanto, Niterói   parece não conhecer ou  esquecer sua história, o valor de sua memória, que começou com os povos originários indígenas, sendo a única  capital do País fundada por um índio, o Araribóia. Sem dúvida, está faltando na cidade um Centro de Memória.   

Em recente encontro com o candidato a prefeito Rodrigo Neves (antes do falecimento de Silvio Santos), ele fez uma retrospectiva  dos ciclos de desenvolvimento da cidade e falou das propostas para seu futuro governo, caso seja eleito. Rodrigo foi enfático:  Vou criar o Centro de Memória de Niterói.  

Niterói merece ! 

Mário Sousa é jornalista e Analista Político 

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