Assinante
Luiz Antonio Mello
Moradores de Icaraí passaram o Carnaval assombrados por fantasmas de um passado recente, de alguns anos atrás, quando bairro foi invadido por bandos fortemente armados que invadiam lojas, restaurantes, bares e levavam tudo o que encontravam.
O sumiço de agentes do Segurança Presente gerou preocupação e medo na população e comerciantes do bairro que mais padeceu durante a era das trevas que marcou o domínio do crime em todas as regiões de Niterói.
Diante do clima de terrorismo, muita gente preferiu fechar as portas, abandonar seus negócios e vários mudaram de cidade, traumatizados. De fato, a situação estava totalmente fora de controle a ponto de, num dia de semana, em pleno meio dia, uma quadrilha parar o trânsito na rua presidente Backer esquina com Tavares de Macedo e, exibindo fuzis, fizeram um arrastão obrigando os motoristas a saírem dos carros.
Em 2018 o então prefeito Rodrigo Neves criou o Programa Niterói Presente, recebido com frieza pela população cansada de gerar expectativas, esperanças vãs. A prefeitura bancou a contratação de policiais militares de folga, investiu em viaturas e em bases operacionais. Com o passar do tempo a cidade começou a sentir que o jogo estava virando. As quadrilhas foram sendo presas, bandos desarticulados e o estado de sítio imposto pelas organizações criminosas estava chegando ao fim.
Em menos de dois anos, o modelo de policiamento desenvolvido em parceria com a Prefeitura de Niterói, inédito no país, fez com que a cidade alcançasse os menores índices de criminalidade dos últimos 20 anos em toda a Região Metropolitana.
O comércio comemorou. Lojas, restaurantes, bares reabriram. O Niterói Presente resgatou a tranquilidade do niteroiense que passou a acreditar, com base em dados concretos, que é possível se livrar da bandidagem, basta trabalhar seriamente.
Só que para surpresa e indignação geral, o governador Claudio Castro (PL) decidiu acabar com o Niterói Presente, não renovando a parceria com a prefeitura. Castro cumpre um mandato tampão no lugar de Wilson Witzel (de quem foi vice) defenestrado do cargo em consequência de pesadas denúncias de corrupção.
Como é candidato a reeleição, nos meios políticos comenta-se que acabar com o Niterói Presente foi a maneira que o governador encontrou de tirar um precioso troféu de Rodrigo Neves, que também é pré-canditado declarado ao Palácio Guanabara.
Como prêmio de consolação, o governador substituiu o Niterói Presente pelo Segurança Presente, que é 100% do governo do estado. Logo nas primeiras semanas a população sentiu a diferença. Para pior. No lugar da maciça cobertura da cidade por vários agentes e viaturas o que se viu um policiamento mais esvaziado e, em muitos lugares, raro.
Neste Carnaval o Segurança Presente desapareceu do maior e mais populoso bairro de Niterói, Icaraí. População perto de 80 mil habitantes, sendo 20% acima dos 60 anos. No ano 2000 Icaraí liderou a lista de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU) no estado do Rio.
Quem circulou pelas ruas do bairro de sexta-feira de Carnaval até ontem não viu nenhum agente do Segurança Presente, nem a pé, de carro ou bicicleta. A base em frente a reitoria da UFF, no calçadão da Praia de Icaraí, se manteve deserta no feriadão e logo o programa foi apelidado de Segurança Ausente.
Niterói Presente deixou saudade e a certeza de que, trabalhando pesado, dia e noite, todos os problemas da cidade podem ser resolvidos, menos a indolência e a desconsideração com os cidadãos pagadores de pesados impostos.