Raquel Morais
A Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro (SMASDH) estimou um aumento de 150% na quantidade de moradores de rua, nos últimos três anos. A Prefeitura de Niterói não divulgou números dessa população, mas o projeto "Dois Pães e Um Pingado", que atua em vários estados e também em Niterói, confirmou essa alta também na cidade sorriso. Se em setembro de 2016 eram distribuídos 30 kits de café da manhã no Centro de Niterói, hoje esse número já aumentou para 50, e ainda não está suprindo a demanda.
Estatísticas do movimento, que ocorre em Recife, Curitiba e São Paulo, apontam que seriam necessários mais 30 kits para que todos os moradores que habitam o Centro, Praça Jardim São João e Barcas se alimentem no início da manhã. Ou seja, de 30 no início do projeto, esse número deveria estar em 80, aumento de 166%. Tenho percebido, depois dessa crise, que o aumento foi considerável de população de rua, que é dividida em três grupos: os psicóticos graves, vítimas de violência doméstica e do tráfico e trabalhadores que não têm onde morar. As pessoas estão tendo que dividir o lanche e isso nos dói muito. Infelizmente o número de doações também diminui por conta da crise, explicou Simone Coelho, que é psicóloga e faz parte do projeto junto com a filha, estudante de jornalismo que trouxe o projeto para Niterói.
A reportagem de A TRIBUNA conversou com dois moradores de rua, no Centro de Niterói, que preferiram não se identificar. Um disse morar na rua há nove meses depois de trabalhar 18 anos em uma emissora de rádio no Rio de Janeiro. Outro disse que já não lembra quando conseguiu o último emprego. Nós damos cobertura um para o outro. Quando um está cochilando e dormindo, o outro está vigiando. Somos roubados por pessoas que estão na mesma situação da gente. Não posso voltar para minha família por ser dentro de comunidade. O que mais me dói é quando minha mãe vem me visitar, comentou com olhos mareados o homem que tem 43 anos.
Somos pessoas que temos apenas o direito de não ter direitos. Somos o lixo da sociedade, que nossos governantes querem colocar debaixo do tapete, desabafou a assistente social Maralice dos Santos, que morou três anos na rua e hoje é coordenadora estadual do Movimento Nacional de População em Situação de Rua, no Rio de Janeiro.
Segundo a Prefeitura de Niterói, não existe um levantamento da quantidade de pessoas em situação de rua na cidade, já que esse número varia muito e muitas dessas pessoas possuem casas. As equipes de educadores sociais da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SASDH) realizam, em média, 500 abordagens mensais, onde buscam sensibilizar essas pessoas para irem para o Centro Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), onde são encaminhadas para centros de acolhimento. As ações da SASDH são diárias e não há insuficiência de vagas nos abrigos do município. Cerca de 70% das pessoas abordadas não são de Niterói e muitas destas aceitam voltar para seus municípios de origem.