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Sabe o que o tiro na orelha de Donald Trump tem a ver com Arariboia e as eleições de outubro? Nada. Absolutamente nada. Até as amêndoas do calçadão da Praia de Icaraí sabem que em outubro teremos eleições para prefeito e vereadores. Uma eleição bem típica, características nítidas, quase palpáveis.
Pesquisas e resultados de centenas de eleições que o país já assistiu mostram que as exigências dos eleitores das cidades são todas locais. Todas. Mais: o eleitor perdeui totalmente a paciência.
O velho, tradicional e saboroso prato feito. Saúde, transporte, segurança, meio ambiente, cultura, limpeza, educação.
Aqueles que tentarem, por exemplo, trazer para cá o tiro que Donald Trump levou na orelha sonhando com repercussão na Praça Arariboia, é piadista, debochado ou surfa na ignorância.
Niterói, por exemplo, sequer tem consulado dos Estados Unidos. A única referência da cidade a algo relevante da América de cima, ou América do Norte, e a inexplicável avenida chamada Presidente Franklin Roosevelt, a principal do bairro de São Francisco.
Com certeza, o ex-presidente americano nasceu, cresceu e morreu sem saber o que é Niterói. Um pássaro, um avião?
Eleições municipais são difíceis porque exigem corpo a corpo, promessas (hoje chamadas de “compromissos de campanha”), fígado de chumbo para aguentar pancadas, muitas baixas, outras abissais.
Os eleitores de hoje tem uma poderosa arma na mão: o acesso a informação. De um lado, o (bom) jornalismo profissional em sua eterna busca da verdade absoluta. Do outro lado, informação podre que habita o whatsapp, redes sociais, e primam pela mentira, pela calúnia, omissão, o que não carinhosamente podemos chamar de chorume da comunicação. Se infiltram na imprensa marrom, outra pista de pouco da má fé.
Pode ser que, este ano, os candidatos a vereador em Niterói cheguem perto de mil. Mil pessoas sonhando com uma das 21 cadeiras.
Se chegarem a 800 candidatos serão 38 para cada vaga. A maioria dos parlamentares vai tentar a reeleição, uma escolha mais fácil para o eleitor.
Basta avaliar o que ele fez e o que não fez de bom para a cidade.
Os atuais vereadores estão no site da Câmara Municipal: https://www.camaraniteroi.rj.gov.br/site/vereadores/
Niterói já foi o segundo maior empregador formal do estado do Rio.
Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas em 2011, classificou como "a cidade com população mais rica do Brasil", por possuir 30,7% dela inserida na classe A. Considerando as classes A e B, Niterói também aparece em primeiro lugar, com 42,9% de sua população inserida nessas classes.
Está entre as cidades mais alfabetizadas do país, além de apresentar a menor incidência de pobreza, a população com maior renda mensal per capita e o maior índice de longevidade municipal do Estado. Segundo levantamento do Instituto Trata Brasil, a cidade tem 100% do abastecimento de água tratada e também 100% do esgoto.
Com a inauguração da ponte Rio-Niterói, em 4 de março de 1974, a invasão cavalar (e insana) da indústria imobiliária, dezenas de milhares de pessoas migraram para cá, aproveitando as ofertas de imóveis bem mais baratos do que no Rio.
A cidade recebeu (e continua recebendo) muitas famílias de fora. O impacto é tamanho que segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade 72% dos empregados no comercio de Niterói moram em São Gonçalo e arredores.
É evidente que os problemas cresceram exponencialmente. A administração municipal lida com urgências graves como, por exemplo a mobilidade.
Niterói é a quinta cidade do estado com o maior número de veículos por habitantes. Segundo a Secretaria de Urbanismo, no ano passado a proporção era de 482 mil habitantes para uma frota de 190 mil automóveis.
Entre os candidatos bem-intencionados, tanto para a Câmara como para a Prefeitura, há propostas interessantes.
Por exemplo, uma linha de VLT ligando a Região Oceânica as barcas, compartilhando vias com veículos comuns, como já acontece, com sucesso, no Rio. Comparado a metrô, viadutos, mergulhões, VLT é uma obra muito menos cara.
Os bem intencionados sugerem um trajeto quase reto: Estrada de Itaipu – Túnel do Cafubá – Charitas – São Francisco – avenida Roberto Silveira – Marques do Paraná – Amaral Peixoto – Barcas. Parece simples, e é. Três engenheiros me garantiram.
E como sempre acontece, ouço “propostas novas” que copiam várias cidades de porte semelhantes a Niterói que há anos adotam alta tecnologia na sinalização do trânsito, com sensores, sinais inteligentes que abrem e fecham de acordo com a medição eletrônica do fluxo, fotos em tempo real de motoristas falando no celular (responsável por alto índice de acidentes) que são imediatamente multados
Niterói ainda tem sinais (vulgo semáforos ou semáforos, vulgo sinais) com mais de 50 anos, não sincronizados. O trânsito vai estar entre os temas que mais serão cobrados dos candidatos a prefeito e vereadores antes das eleições.
Outros pontos: saúde pública, meio ambiente, segurança, iluminação, cultura, ingredientes típicos de agendas para eleições locais, e não os assuntos que são discutidos nacionalmente.
Exceção, claro, da tragédia da população de rua e dos dependentes químicos, um gravíssimo drama brasileiro que tem sido um desafio para o poder público das cidades.
Afinal, o eleitor de Niterói apoia ou não a internação compulsória desses dependentes? O que fazer com essas pessoas que não tem onde viver?
Os candidatos que fugirem desses temas cotidianos e vierem com um discurso empolado, cheio de chavões, com pautas filosóficas, de costumes, liberar fuzis, proibir biquini (que, por lei, os municípios não podem resolver), não ganham eleição aqui nesses trópicos.
São os chamados candidatos de “nicho”, específicos, de grupelhos.
Barulhentos grupelhos, mas que não passam de panelinhas, vulgo zero à esquerda.
Post Scriptum
Sábado passado (13) foi muito especial.
O lendário e muito querido Cine Arte UFF apresentou uma sessão especial do filme "Aumenta que é Rock’n’Roll", produzido por Renata Almeida Magalhaes e dirigido por Tomás Portella.
Cinema cheio. Que beleza!
No final, a UFF, através de Pedro Gradella, convidou a mim e o roteirista L.G. Bayão para um debate, que contou também com a participação do Reitor da Universidade, Antônio Cláudio Nóbrega e do superintendente do Centro de Artes da UFF, Leonardo Guelman.
Foto: com o Reitor Antonio Claudio Nóbrega.
Foi sensacional! Agradeço a UFF e as pessoas que encheram o cinema para assistir o filme e conversar conosco no final.
Maravilha!