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O dia que Lili Leitão foi confundido com Leila Diniz
O dia que Lili Leitão foi confundido com Leila Diniz
Foto do autor Mário Sousa Mário Sousa
Por: Mário Sousa Data da Publicação: 12 de abril de 2025FacebookTwitterInstagram

No tempo das máquinas de escrever, errávamos nas redações pela pressa nos teclados. Atualmente, com a mesma rapidez e mais facilidades, redigimos textos de qualquer lugar por computador,  notebook, tablet e celular.
No jornalismo, a correria de sempre pode provocar omissão de vírgulas, títulos trocados, frases truncadas. E onde estão os revisores, os chamados "copydesques", profissionais revisores de texto que foram extintos das redações? Não existem mais. Resultado: olhamos o texto com atenção inúmeras vezes e, só depois de publicado, percebemos que houve erro. Nestes casos, haja coração e justificativas.
Pois, no meu caso,  numa  coluna no Jornal A Tribuna sobre “Memórias”,, saiu uma frase truncada que embaralhou tudo e o poeta Luiz Antonio Gondim Leitão, conhecido como Lili Leitão, foi  confundido com a nossa  musa do cinema e teatro Leila Diniz. E vejam só: Lili Leitão, nasceu no  dia 25 de janeiro de 1890. Já Leila Diniz nasceu em 25 de março de 1945. Um vácuo de tempo de 65 anos.
E quem observou este empastelamento de texto? O nosso imortal da Academia de Letras Fluminense, jornalista, escritor e destacado advogado, Erthal Rocha. Com certeza foi revisor, pois foi Diretor do Jornal O Fluminense com Alberto Torres.
Lili Leitão, o poeta boêmio, como era conhecido, marcava presença no Cafelogeu,  conhecido como Café Paris, no centro de Niterói, ponto de encontro da intelectualidade e boêmia da época. Além de poeta, foi dramaturgo  com dezenas de peças escritas, entre elas, “Tudo na Rua” (1914) e “Niterói em cuecas” (1924). Seu último livro foi “Comidas Bravas” de poesias eróticas. Teve outro pseudônimo, Bacurinho. Foi autor também do argumento do filme “Dentro da vida”, primeiro longa-metragem feito no Estado do Rio de Janeiro.
Existe um livro sobre Lili Leitão escrito por Lyad de Almeida, ex- presidente do Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural (INDC),  chamado “Lili Leitão, o Café Paris e a vida boêmia de Niterói.” 
Já a musa Leila Diniz, que é nome de rua no bairro de São Francisco, em Niterói, foi uma mulher ousada e que teve a coragem de quebrar tabus em plena ditadura militar na década de 60. Escandalizou a sociedade conservadora ao desfilar grávida, de biquíni, na Praia de Ipanema. Assumia a luta pela liberdade sexual da mulher com frases do tipo: "Transo de manhã, de tarde e à noite". E, numa entrevista histórica ao Pasquim, que estourou a tiragem, Leila Diniz, após falar muitos palavrões, declarou: "Posso amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo". Esta sua entrevista apressou a censura prévia à imprensa com um decreto que ficou conhecido como Decreto Leila Diniz.
Jurada no programa de Flávio Cavalcante, na TV Tupi, um dia foi surpreendida com policiais que chegaram durante o programa para intimá-la e prendê-la, mas Flávio deu um jeito e levou-a rapidamente para o banheiro e depois para o seu sítio em Petrópolis. A prisão de Leila Diniz foi revogada mediante a assinatura de um documento de que ela não falaria mais palavrões.
Leila trabalhou na primeira novela produzida pela TV Globo como protagonista em "Ilusões Perdidas". Foram 12 telenovelas na Globo, na Record e na Tupi, além de 14 filmes. Por causa da sua entrevista ao jornal Pasquim, a TV Globo não renovou seu contrato, alegando que não tinha mais papel de doméstica nas novelas. Leila voltou a trabalhar em peças teatrais e se renovou com o Teatro de Revista. Foi escolhida a Rainha da Banda de Ipanema. E, morreu aos 27 anos, no auge de sua carreira, num acidente de avião retornando da Austrália.
De tantas narrativas sobre Leila Diniz, por sua liberdade e posicionamentos, vale lembrar uma frase sua dita ao ser interrogada por um policial.
Policial: "Você dá para todo mundo, eu também quero!"
E Leila respondeu: "Dou sim para todo mundo que quero, mas não dou para qualquer um!"
Era o jeito Leila de ser.
Assim, retornando à questão do jornalismo, e com a devida correção do erro de digitação que truncou frases, ressalto a importância da apuração e  da publicação da correção de possíveis erros, para a construção de um jornalismo sem subterfúgios, sem mentiras (fake news), sem banalização e e tangenciamentos.
Mário Sousa é Jornalista, escritor e Analista Político.
 

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