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Uma dissertação, realizada no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (PPGAU/UFF), explora as imagens de Niterói por mais de 30 anos, no período entre 1964 a 1996, para estudar as mudanças urbanas ocorridas na cidade.
A pesquisa “Entre o concreto e o abstrato: Uma análise sobre as imagens representativas de Niterói no período de 1964 a 1996” propõe a criação de uma linha do tempo imagética que acompanha os principais marcos históricos e as transformações da cidade no século passado, com foco em três momentos: o perfil da cidade enquanto capital do estado; a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara; e o reconhecimento nacional por índices de qualidade de vida.
O doutorando do PPGAU/UFF e responsável pela pesquisa, Gabriel Soares da Costa, explicou que a pesquisa começou para compreender as narrativas construídas sobre Niterói.
“O principal motivo para iniciar minha pesquisa foi minha conexão com Niterói, cidade onde nasci e cresci. Fui aluno de graduação na Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF (EAU/UFF) e escolhi este curso para aprofundar meu conhecimento sobre o lugar onde vivi minha vida toda e contribuir para seu desenvolvimento. Durante a graduação, fiz vários projetos de pesquisa relacionados à história de Niterói e, para a minha dissertação, meu foco foi investigar por que a cidade era vinculada à ideia de qualidade de vida”.
Três imagens principais foram propostas: “a capital do progresso” (1964-1975), “a ex-capital” (1975-1989) e a “cidade da qualidade de vida” (1989-1996). O estudo trata de questões importantes para a construção histórica da cidade de Niterói, como, por exemplo, a perda do título de capital do Estado, a busca por uma identidade própria e a construção da ponte Rio-Niterói.
“O período entre 1964 e 1975 é um marco porque o país vivia um período de grande euforia, impulsionado pelo chamado milagre econômico e, com a construção da ponte Rio-Niterói, essa percepção de progresso refletiu na cidade. A construção da ponte gerou uma grande expectativa, com destaque para o mercado imobiliário. No entanto, a obra foi inaugurada em 1974, um ano após a crise do petróleo, que afetou investimentos no país inteiro. Além disso, em 1975 é concretizado o processo de fusão entre os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, iniciado anos antes, finalizando esse período de entusiasmo”, analisa o pesquisador.
Para Soares, a transferência da capital estadual para o Rio de Janeiro causou um impacto negativo em todos os aspectos de Niterói.
“A fusão representou um baque muito grande para a cidade e gerou perdas econômicas, políticas e simbólicas. O fato de uma cidade ser capital gera diversas mudanças, tanto de investimento quanto de servidores trabalhando na máquina pública, então Niterói passa de um período de grande euforia para uma época de esvaziamento político e social. Isso provocou uma reflexão sobre a identidade da cidade, que enquanto capital, visava ser uma metrópole, mas que posteriormente à fusão, viu sua capitalidade se perder e se tornar uma cidade da recém-criada região metropolitana do Rio de Janeiro. Neste sentido, o mote adotado era o de Niterói como ‘uma cidade onde viver’, reforçando suas qualidades”.
A autonomia dada aos municípios pela Constituição Federal de 1988 e a transição para a década de 90 trouxeram novas perspectivas para Niterói, que passou a se destacar pela qualidade de vida.
“A nova constituição democrática reforça a importância do município e coloca-o como unidade política administrativa. Isso vai trazer para a cidade um protagonismo e uma nova perspectiva. Além disso, um ponto marcante para Niterói é a demolição do palácio da justiça, em 1989, que trouxe de volta a ideia da Praça da República, hoje tombada. Tudo isso é uma valorização do patrimônio da cidade e um resgate da identidade de Niterói. Os próximos prefeitos dessa época vão levar esse mote de valorização do cidadão e da cidade”, explica o urbanista.
O pesquisador também destaca que dados do Censo demográfico de 1991 destacavam Niterói pela qualidade de vida e pelo alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
“Esse passou a ser um ponto de referência e da propaganda da cidade, com reflexos, por exemplo, no preço dos aluguéis na região. Em 1992, é criado o plano diretor de Niterói, que vai direcionar a estruturação do município, culminando na construção do Museu de Arte Contemporânea (MAC), inaugurado em 1996, que acabou se tornando o principal símbolo da cidade e um elemento de virada nessa retomada da identidade e do orgulho de ser niteroiense”.