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Dez anos após crime, família de Patrícia Acioli luta por expulsão de PMs
Dez anos após crime, família de Patrícia Acioli luta por expulsão de PMs
Vitor Davila
Por: Vitor Davila Data da Publicação: 04 de agosto de 2021FacebookTwitterInstagram

Neste mês, um dos crimes mais marcantes dos últimos tempos completa 10 anos. Na noite de 11 de agosto de 2011, a juíza Patrícia Lourival Acioli foi morta, com mais de 20 tiros, quando chegava em casa, no bairro de Piratininga, Região Oceânica de Niterói, após retornar do Fórum de São Gonçalo. De acordo com as investigações, os autores foram policiais militares, insatisfeitos com a atuação da magistrada contra agentes que praticavam homicídios e extorsões.

Na manhã desta quarta-feira, o ex-esposo de Patrícia, Wilson Maciel Júnior, ao lado das filhas, Ana Clara e Maria Eduarda, estiveram no calçadão da Praia de Icaraí, onde foi plantada uma árvore em homenagem à magistrada. Mesmo tendo passada uma década do crime, Wilson, que é advogado, acredita que a justiça ainda não foi feita em sua totalidade. Ele cobra que a Polícia Militar expulse dois envolvidos no crime, que ainda estão nos quadros da corporação, são eles o tenente Daniel Santos Benitez Lopez e o coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira.

"A gente viu que houve julgamento, uma condenação, mas a família sempre esperou a justiça completa, que é a expulsão de todos eles. Não é crível um comandante de um batalhão, que teve a audácia de planejar o assassinato de uma juíza, passados dez anos continue fazendo parte da corporação, mesmo condenado. Eles estão recorrendo e a gente vê que ele ainda faz parte dos quadros da Polícia Militar e o tenente também pertence aos quadros", disse Wilson.

Outro fato que intriga o ex-esposo de Patrícia é que outros envolvidos no crime, de patente mais baixa, foram sido expulsos da PM com celeridade, enquanto Cláudio e Daniel permanecem nos quadros da corporação. Wilson também questiona que, por ainda serem funcionários da Polícia Militar, os dois militares continuam recebendo normalmente seus salários. Os agentes ainda recorrem das sentenças.

"A gente viu que os praças foram todos excluídos em menos de dez anos. Em dois anos já estavam todos fora. Agora os oficiais, dez anos se passaram, e continuam recebendo dos cofres públicos. Eles estão presos, mas estão recebendo, pagos por nós contribuintes. O acesso de informação que a gente tem é que estão aguardando os recursos nos tribunais, mas a gente sabe que não depende apenas da decisão judicial a expulsão", prosseguiu.

Além disso, Wilson acrescenta que, para a família de Patrícia, é fundamental que haja a expulsão dos agentes, o que ajudaria tanto o ex-esposo quanto as filhas dela a seguirem suas vidas em paz. "A gente espera que isso encerre em algum momento, que haja a expulsão dos dois e, com isso, vire a página e a gente siga com a nossa vida.", pontuou o advogado, frisando que, ainda que haja a punição, nada repara a falta que a mãe faz na vida das filhas.

"Foram dez anos em que minhas filhas foram privadas de todos os benefícios que a mãe teria conseguido na carreira. A mãe, hoje, seria desembargadora e poderia estar proporcionando para elas uma condição de vida muito melhor que elas têm. Minhas filhas foram privadas das promoções que a mãe deixou de receber, do que ela poderia proporcionar se tivesse viva. Além do convívio da mãe. Minhas filhas não vão ter a mãe na formatura. Há dez anos não existe aniversário, natal, dia das mães", concluiu.

Filhas sentem ausência da mãe

Ana Clara tinha apenas dez anos de idade quando perdeu a mãe (atualmente tem 20). A jovem pretende seguir os passos de Patrícia, já cursa a faculdade de Direito e pretende ser delegada federal, no entanto, não descarta seguir carreira na magistratura. Ana recorda de momentos que deveriam ser de alegria, mas que se tornaram tristes devido à ausência da mãe, como sua aprovação para cursar o ensino superior.

"A gente sempre pensa, em qualquer conquista do dia a dia, que ela poderia estar aqui, que ela poderia me ajudar nas situações, ela iria me dar a melhor orientação, poderia estar chorando de alegria por uma conquista minha. Quando eu passei para a faculdade me doeu muito, embora tenha sido um momento muito bom. Eu não tinha a presença de quem mais lutou pela minha educação, é uma dor diária. Inspiro-me diariamente nela, não só no Direito, que estou cursando, mas dentro da minha vida e na forma de buscar justiça", contou.

A irmã de Ana, Maria Eduarda Chagas Acioli, admitiu que conviveu por pouco tempo com a mãe, mas faz questão de frisar que, até hoje, o legado de Patrícia a influencia tanto em sua vida pessoal, quanto profissional. A jovem, de 22 anos, está cursando a faculdade de Medicina. Maria se emocionou ao falar que estará satisfeita se puder ser, com seus futuros filhos, um pouco do que Patrícia foi para ela.

"Eu conheci minha mãe por muito pouco tempo, mas estou cercada de pessoas que foram influenciadas por ela. Ela está presente em todas as minhas decisões, na formação da minha personalidade. Que eu tenho que ser uma pessoa boa justa e tentar fazer a mudança no mundo. Tudo isso é por ela e por influência da personalidade dela. Estou fazendo Medicina e a melhor forma de honrar o legado da minha mãe é salvar vidas e ajudar as pessoas. Quando for mãe, queria ser pelo menos um terço do que ela foi para mim, mesmo por pouco tempo"

PM se manifesta

A reportagem questionou à Polícia Militar se existe processo de expulsão aberto contra os agentes, se eles permanecem recebendo normalmente seus salários e qual a função atual deles na corporação. Em nota, a corporação limitou-se a dizer que "a sua competência nos trâmites administrativos relativos aos dois oficiais já foi cumprida, repassando para instâncias superiores. Os processos na Justiça permanecem aguardando as decisões da Casa Civil e da 3ªCâmara Cível do Tribunal de Justiça, onde tramitam."

Também foram feitas tentativas de contato com os advogados que defenderam Cláudio e Daniel, nos processos mais recentes em que eles são citados no sistema do Tribunal de Justiça (TJRJ), datados do ano de 2019. No caso do primeiro, a advogada afirmou não trabalhar mais com o militar. Em relação ao segundo, o telefone atribuído ao escritório de advocacia não atendeu ás ligações.

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