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Neste domingo (7), um marco na luta contra o racismo e discriminação social no futebol completa 100 anos.
Foi no dia 7 de abril de 1924 que o Vasco da Gama enviou o Ofício nº 261, assinado pelo então presidente José Augusto Prestes, em que a equipe desistia de participar da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA).
Tal Ofício ficou conhecido como “Resposta Histórica” pois a AMEA exigia que o Vasco excluísse 12 jogadores do seu elenco, sete do time principal e cinco do segundo quadro, por “estarem em desacordo com os padrões morais necessários para a prática do futebol”.
“Esses 12 jogadores foram rejeitados por serem pretos, brancos de baixa condição social, analfabetos... como era formado majoritariamente o time do Vasco, que havia sido campeão no ano anterior com esse time.
O Vasco foi o primeiro time carioca a ser campeão com time formado majoritariamente formado por pretos, mestiços, simples trabalhadores, analfabetos, brancos de baixa condição social numa época em que jogar futebol era para elite”, disse o professor e historiador, José Nilton Júnior.
Em 1919, sob a presidência de Francisco Marques da Silva, sem se importar com a cor da pele ou com a condição social dos jogadores do seu primeiro quadro, o Vasco contratou, de uma vez, seis jogadores dos melhores times dos subúrbios cariocas.
A imprensa chama o Vasco em 1919 de “scratch da Liga Suburbana” (João Malaia, 2010).
Em 1923, o Vasco havia conquistado seu primeiro título do Campeonato Carioca com um time formado, em sua maioria, por jogadores negros, pobres e analfabetos.
O time ficou conhecido como “Camisas Negras” e contava com Arthur, Bolão, Cecy, Leitão, Negrito, Nicolino e Russinho, que viriam a defender o Brasil na Copa do Mundo de 1930.
No ano seguinte, os clubes do Rio de Janeiro formaram a AMEA e convidaram o Vasco para participar, mas com a exigência da exclusão de certos jogadores.
O Vasco se negou a participar.
Essa postura do Vasco foi determinante para a democratização do futebol, além de ser uma contribuição para o processo de profissionalização do mesmo, embora só tenha se dado de fato na década de 1930.
“A Resposta Histórica apontou para um modo de profissionalizar o futebol, que na época era amador.
"De certa maneira, o que o Vasco fez era “ilegal”, mas não era “imoral”. Pagar seus jogadores, dar repouso, dar condições para que pessoas pobres pudessem jogar futebol, treinar, comer, descansar.
"Desse modo, costumo dizer que o futebol se tornou algo possível a qualquer um, independente da cor da sua pele, da sua condição social, do seu grau de escolaridade”, afirmou o historiador.
Em 1924, o Vasco permaneceu na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e foi campeão carioca pela segunda vez consecutiva.
No ano seguinte, o Cruzmaltino recebeu um novo convite para se filiar à AMEA, sem ter que excluir jogadores, pelo apelo popular que a equipe trazia.
“São Januário é a continuação dessa História, pois em 1925 o Vasco é convidado de volta para AMEA, mas precisa ter uma praça de esporte próprio.
"Aí começa o projeto de construção de São Januário, que inaugura em 1927, e será o maior estádio da América do Sul até a inauguração do Estádio Nacional de Montevideo em 1930 para Copa do Mundo”, disse o historiador.
A Resposta Histórica abriu caminho para o Vasco se consolidar como um dos grandes do futebol carioca e motivou a construção de São Januário, que foi concluída em 21 de abril de 1927.
“A Resposta Histórica é o maior título do Vasco sem ser propriamente um título. Mas é uma parte da história do futebol brasileiro, que independente do clube para o qual você torça, temos que respeitar, e valorizar essa História”, afirmou o professor.