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A Olímpiada em Tókio nos traz várias reflexões e lições. O impacto da mídia e o reality show oferecido a milhões de expectadores colocando os que ganham no pódio principal como heróis não traduz a realidade do esporte no Brasil. É gritante o descaso.
Em 2016, no Rio, com sete ouros conquistados e o Brasil ficando no ranking em 13º lugar, parecia que daríamos um salto de gestão, investimentos e mudanças de rumo. Não. Nada aconteceu, pelo contrário, houve retrocesso. A Vila Olímpica carioca que custou cerca de 40 bilhões e com propostas de revitalização das áreas ocupadas, com novas arenas de lazer, escolas, planos urbanísticos e de sustentabilidade ficaram nas promessas e o abandono desses espaços é, no mínimo, um crime contra o patrimônio público. Situação desastrosa que se multiplicou por todo o País.
Nos países desenvolvidos, que prezam o desenvolvimento humano, existem políticas públicas no Esporte desde a infância. No Brasil, os incentivos são limitados, seletivos e comprometidos. O país tem uma lei de incentivo ao esporte, a lei das loterias e o Bolsa Atleta. Já as Forças Armadas têm o mérito de um projeto no esporte de alto rendimento. Este alicerce militar não se confunde com governo de Bolsonaro que vai na contramão das políticas públicas do Esporte, da Cultura, da Educação, do Meio Ambiente e da Saúde. É um governo obscuro e que institucionaliza a mentira. Suas ações são de desmonte, claro, agressivo, antipatriótico, sem nenhum compromisso com a cidadania, com o bem estar, com a vida do brasileiro e com a Democracia.
Não se nega o que existe de apoio aos atletas, no entanto, não tem o alcance social que acabe ou diminua a invisibilidade de milhares de jovens nas periferias, nas favelas, nos guetos, que buscam uma oportunidade de praticarem um esporte. E muito mais: que tenham o básico para se sustentarem e se aperfeiçoarem nos esportes de suas preferências e possam competir com mais possibilidades e segurança.
Está muito evidente que desde a chegada dos atletas até a conquista de medalhas, o mérito é do atleta e não do País. A maioria dos atletas que chegou a Tókio e competiu traz na alma e no corpo a adversidade, a superação e as migalhas oferecidas.
Temos que ter orgulho de todos atletas que se prepararam para a Olimpíada e é emblemático a alegria de Rebecca ao ganhar a Medalha de Ouro na Ginástica Olímpica: eu sou preta e represento preto, branco e pardo e de todos os medalhistas brasileiros. Com Rebeca , com Marta, com Raissa,Martine, Kahena, com todos participantes com medalhas e sem medalhas , não perdemos a garra, a determinação, a superação e o sonho!
Niterói, neste contexto, está fora da curva, mesmo lembrando e destacando nossa vitoriosa Aída dos Santos, que com todas as dificuldades, sem um tênis para concorrer, nos deu orgulho em salto em altura, nos jogos de Tókio, em 1964. Das peladas aos equipamentos e os grandes eventos, a cidade tem feito investimentos para várias modalidades esportivas. Do Projeto Nomes as competições na praia de Itacoatiara e no parque da Cidade; as inaugurações de quadras poliesportivas no Caramujo, no Barreto, em Jurujuba e as pistas de Skate park no Horto do Fonseca e em São Francisco. Não podemos deixar de mencionar o celeiro de craques mundiais no futebol como Gerson, Leonardo, Altair, Afonsinho, Jairzinho, Roberto Miranda.Temos também uma Secretaria de Esportes ativa, embora seja inaceitável o abandono , por parte do Governo do Estado, de nossa maior arena esportiva, o tradicional Caio Martins.
Em relação, ao Ouro Olímpico na Vela com Martine Grael e Kahena Kunzel, bi-campeãs, em 2016, no Rio e, agora, em Tókio, orgulho para Niterói e para o País, é uma etapa, mais um título, de gerações e gerações da família Grael, que já conquistou 9 medalhas olímpicas. São quatro medalhas de ouro, uma de prata e quatro de bronze.Torben Grael, pai de Martine, tem cinco medalhas olímpicas no currículo. Já Lars Grael, irmão de Torben e tio de Martine, soma duas. Torben Grael: Ouro: Atlanta 1996 e Atenas, 2004; Prata: Los Angeles 1984; Bronze: Seul 1988 e Sidney 2000); Martine Grael: Ouro: Rio 2016 e Tóquio 2021; Lars Grael: Bronze: Seul 1988 e Atlanta 1996.
Uma saga de campeões que começa há mais de meio século com seus tios Axel e Erik que participaram das olimpíadas nos anos 60 como atletas. Hoje, em Tókio, além das atletas do Ouro, Torben é o coordenador da Confederação Brasileira de Vela.
Com esta expressão internacional por Niterói ter mais medalhas olímpicas em Vela que muitos países em todas modalidades de competições, a cidade já é conhecida como a capital nacional da Vela, mas falta institucionalizar esta vocação e realidade. E fica mais uma sugestão: o Museu da Vela.
Mário Sousa é jornalista