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Estou reativando a Coluna do LAM, um lugar na internet (www.colunadolam.blogspot.com) com quase 1 milhão e meio de visitantes onde escrevo o que penso e o que sinto. Aliás, o que sinto e o que penso. Nessa ordem.
Apesar de residir numa plataforma chamada Blogger, Coluna do LAM não é blog porque, simples, amigos leitores, blogueiro é o cacete!
Daqui a pouco vão xingar de influencer, youtuber, podcaster e outros analfabetos digitais que entulham o asneirol vago em que se transforma a comunicação, basicamente frequentada por gente que não sabe falar, não sabe escrever, não sabe mugir, não sabe cacarejar e, principalmente, não sabe ler.
Frank Zappa, que, com certeza, 99,9% dos leitores não tem ideia de quem tenha sido, disse uma vez:
Um repórter de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar, para pessoas que não sabem ler.
Se não tivesse morrido de câncer em 1993 aos 53 anos, Zappa estaria cancelado como estorvo, pária, xepa de boate da hora. Por que? Porque ele um dos maiores músicos e compositores do século 20, com mais de 80 álbuns gravados. Crime! Talento é crime! Mérito é crime!
Zappa seria capado, morto e enterrado vivo pelos imbecis que fizeram da humanidade uma ponta de estoque em troca de bilhões de views, e volta e meia ganhando um carro elétricorosa choque infestado de barangas.
Blogueiro é o cacete! porque escalavrei a minha adolescência levando esculacho da grande professora Jacyra Pires de Mello, com quem tive aulas particulares de português, digo, Português, levando esporro a torto e a direito porque a mestra era puro fio desencapado, granada sem pino, bazuca alada, lançador de foguetes afegão.
Era uma senhorinha de cabelos muito brancos com tons azulados que tinha um grande sinal no rosto e usava mata moscas como palmatória. Apesar de apavorado, eu gostava dela e, tenho certeza, ela gostava de mim. Usava a palmatória de leve, meio que sorrindo.
Talvez por causa de uma análise (?) que fiz de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, onde destaquei a elegância, estilo, suavidade da sequência da mulher e da garota que, dizem as boas línguas, foi a primeira narrativa erótica explícita da literatura brasileira.
O livro foi lançado em 1890, ou seja, num milênio muito mais liberado e feliz do que o atual, onde eu jamais poderia escrever e, pior, publicar, que achei a cantora Simone gostosa pra caramba numas fotos publicadas domingo passado em um jornal. Com direito a calça jeans meio desabotoada e tal.
O que me atraiu na cena erótica das duas personagens em O Cortiço foi a convite do autor para contemplarmos a cena, como que num buraco de fechadura, e não participar dela como desejariam inconfessáveis 200% da população dita macha da nação.
Depois de Dona Jacyra, Dona Safira e Dona Rita, essa do Abel, me senti um super herói das letras. E como comecei bem cedo no jornalismo por sinal no JORNAL DE ICARAÍ (1971), que pertence a esta A TRIBUNA e circula aos sábados em padarias, farmácias e algumas portarias da Zona Sul, onde mantenho uma coluna (o jornal não está na internet porque tem mais o que fazer), o que escrevo começou a ser fiscalizado por milhares de pessoas.
Significava que errar numa grafia, numa concordância, numa vírgula, no passado,provocava um rugido coletivo dos leitores. Hoje, não mais.
Ou seja, o jornalismo me proibiu de errar, da mesma forma que, amador, molambo, inútil, os blogueiros, influencers e outros tóxicos proíbem de acertar.
Como ia dizendo, blogueiro é o cacete! porque depois de escalavrado pelo, hoje, ensino médio, me tornei bacharel em Comunicação Social e comecei a fazer mestrado, uma tese sobre jornalismo comparado.
Abandonei porque...posso falar?...eu tinha mais o que fazer do que ficar encornado teorizando a prática. Optei por trabalhar na maior faculdade de jornalismo deste país, o Sistema Jornal do Brasil que aglomerava o jornal e as rádios Jornal do Brasil e Cidade.
Lá eu vieditorial derrubar ministro, mentira derrubar editorialista, matéria mal apurada defenestrar repórter que, segundo os meus menores de lá, repórter é a essência, a base, a razão de viver do jornalismo.
Lá eu fiz xixi no mictório ao lado de Carlos Drummond de Andrade, ouvi Nelson Rodrigues perguntar por que esse café está frio? e a minha chefe era a giga escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras Anamaria Machado.
Hoje, Nego do Borel, Belo e personaltrainer de Planaltina são os caras.
Mais: como havia censura oficial dos militares tínhamos que ser mais criativos ainda para burlar os imbecis. Era muito mais fácil ser jornalista nos anos de chumbo do que hoje. Censura fardada ou a paisana, traje dos capitães do mato a serviço da repressão. Censura cruel, indecente, burra,mas era mais autêntica do que essa censura nutella de hoje, representada por muitas (há várias exceções) assessorias de imprensa, cuja função é nos capar, sonegar informações, mentir, enrolar, matar o repórter.
Na boa, não é que o mundo de hoje esteja pior. Ele só está mau caráter.
Não nego que sinto uma certa lascívia quando vejo o meu diploma porque ele representa o pódio, o alívio, a chegada ao final de uma corrida que começou no início da vida e me massacrou implacavelmente todos os dias até a formatura.
Foi olhando o diploma que decidi nunca mais estudar coisa alguma.
Evadi-me do mestrado para trabalhar duro, pesado, aprender nos livros, livros, livros (onde mais?), volta e meia tendo que aturar o bostejar com fedor de naftalina de um pós-doutor, tentando provar que o Pluto é filho da Pluta, ou que a lua surgiu/redonda como um tamanco/se gostas de sorvete/ por que roubaste a minha bicicleta?
Ou seja, em suma, resumindo, cuspi sangue para virar jornalista por isso não admito que me chamem de placebo, ou blogueiro é o cacete!.
Infelizmente o espaço acabou.