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Diversos setores do comércio ainda sofrem com os impactos econômicos, causados pela pandemia da covid-19. Entretanto, para um deles, em específico, a queda no faturamento começou antes mesmo do planeta ouvir falar em coronavírus. Este é o caso das lojas de compra e venda de móveis e eletrodomésticos usados, na cidade de Niterói que, além com a crise provocada pela doença, lida com a feroz concorrência do comércio online.
O empresário Ramon Campos é proprietário de um desses estabelecimentos, localizado na Rua Visconde de Itaboraí, que é conhecida como "corredor" onde estão concentradas lojas do tipo. Ele aponta, além da redução na circulação de pessoas, por conta da pandemia, a migração desse público para o comércio virtual, como forma de evitar a exposição à doença.
"Aqui a gente vê uma queda no movimento da rua, no Centro de Niterói, há uns 4 anos, que foi agravada por conta da pandemia. Em 2020 a gente ficou praticamente 90 dias com a loja fechada, e em 2021 foram 25 dias. Tem também os períodos de diminuição da circulação e a iniciativa de não sair e procurar o online. Isso está diminuindo muito o movimento", disse.
Ainda falando sobre a concorrência com os canais de vendas virtuais, Ramon ressalta que a concorrência deixa de ser com outras lojas, passando a ser com as próprias pessoas que desejam vender seus móveis e outros produtos. Ele aponta a diferença de preço como fator agravante, já que o usuário de um canal online não precisa tirar lucro da diferença do valor de venda ao consumidor final.
"No nosso ramo, que é de usados, nossa concorrência é com pessoa física, e não pessoa jurídica. É com a própria pessoa que, ao invés de passar para a gente revender, vende direto por alguns canais. É complicado a gente competir em preço, com eles, porque eu tenho que comprar para revender, e ganhar dinheiro com isso, enquanto eles vendem direto. A gente vende pelos mesmos meios que eles, mas é complicado", explicou.
Situação semelhante acontece com o empreendedor José Cláudio de Araújo, que possui outra loja, especializada no ramo de usados, na mesma profissão. Ele, além de apontar a baixa procura de pessoas querendo vender, por conta da maior facilidade com as plataformas digitais, afirma que aqueles que desejam repassar produtos ao estabelecimento têm pedido valores muito altos, que não deixam margem de lucro.
"Os anúncios nas redes sociais prejudicam a gente do setor de móveis usados. As pessoas não estão querendo mais vender para a gente, estão anunciando e estão vendendo. A gente tem que se desdobrar para tentar vender alguma coisa, porque está difícil. Com essa facilidade das plataformas, está bem complicado e quando vêm vender para a gente, pedem muito caro, praticamente o preço que a gente vende aqui na loja", lamentou.
Faturamento - Ambas as lojas têm outro problema em comum: a queda no faturamento, do ano de 2019, antes da pandemia, para 2020, quando a covid-19 chegou ao Brasil. Na loja de João, a queda registrada foi de 60% nos lucros, de um ano para o outro. No estabelecimento de Ramon, o índice foi semelhante: diminuição de 50% na arrecadação. "Em 2020, em torno de 50% do faturamento, metade de 2019", disse Ramon.
Grupos e fretes
A reportagem de A TRIBUNA fez uma pesquisa, por meio do Facebook, relacionada à quantidade de membros em grupos onde são publicados anúncios de produtos usados, que, na opinião dos empresários, vem tirando público das lojas. Os dois maiores possuem, respectivamente, 87 mil membros e 31 mil membros. Cabe ressaltar que, segundo as descrições, são aceitos somente anúncios de Niterói e São Gonçalo.
Até mesmo o frete, para entregar os móveis adquiridos por meio das redes sociais, pode ser negociado no mesmo ambiente. Um dos maiores grupos, que junta fretistas e possíveis clientes, no Facebook, conta com cerca de 9,3 mil membros e recebe cerca de 70 publicações por dia, entre anúncios e pedidos de cotação.
Vítor d"Avila