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Nascido em São Gonçalo, ele integrou o elenco da seleção da Copa de 1950
Um dos maiores nomes do futebol mundial completaria 100 anos nesta terça-feira (14) se fosse vivo. Zizinho é um dos responsáveis por colocar São Gonçalo no mapa do futebol e é tido também como ídolo de muitos jogadores considerados lendas até hoje. O próprio Pelé já falou em diversas entrevistas que considerava Zizinho como um de seus ídolos de infância.
Nascido em 14 de setembro de 1921 no bairro de Neves, Thomaz Soares da Silva deu os primeiros passos no Byron, clube do Barreto, na Zona Norte de Niterói. O início foi possível graças à proximidade da equipe com a fábrica de tecidos onde trabalhava. Rapidamente começou a chamar a atenção pela incrível habilidade. E também pelo gênio forte.
Ao disputar um jogo contra o Barreto, do mesmo bairro, o jovem se envolveu em uma confusão no Clássico da Zona Norte válido pelo Campeonato Niteroiense de futebol e foi suspenso por um mês. Curiosamente, isso foi decisivo na transferência de Zizinho para o Flamengo, clube pelo qual conheceria a glória.
Em 1939, o Flamengo tinha em seu elenco nomes como Yustrich, Domingos, Valido e Leonidas da Silva. O Rubro-Negro disputou uma partida no campo do Barreto e como forma de neutralizar a suspensão de Zizinho, e ao mesmo tempo acelerar a contratação dele para o clube, pôde contar com o jovem atleta naquela que foi a primeira partida da equipe flamenguista em solo niteroiense. O fato foi relevado pelo próprio Zizinho em sua autobiografia, Verdades e Mentiras do Futebol, lançada em 2000, dois anos antes da sua morte, em decorrência de um infarto, em Niterói.
Logo no primeiro ano de Flamengo, o gonçalense conquistou o Campeonato Carioca de 1939 com apenas 19 anos. O jogador chamou a atenção à época não apenas por causa da habilidade, como também por não ter sentido a responsabilidade em substituir Leônidas da Silva, recém-saído do clube.
A partir da década seguinte, a de 40, entrou em definitivo na história do clube ao conquistar o tricampeonato estadual em 1942, 1943 e 1944. Com 146 gols marcados em 318 jogos, Zizinho encerrou a trajetória no Flamengo em 1950, mas de uma forma nada amistosa. Isso porque foi transferido para o Bangu em uma negociação feita a contragosto do então jogador. Mas foi justamente essa polêmica transferência que se mostrou decisiva para ele ser convocado para a Copa de 1950
Ele não disputou as duas primeiras partidas, mas jogou o restante do torneio e marcou dois gols na competição, sendo considerado o melhor daquela Copa do Mundo. A atuação de maior destaque foi na goleada por 6 a 1 sobre a Espanha. E antes da Copa, ele conquistou a Copa Rocca, em 1945 e o Sul-Americano (atual Copa América), em 1949, pela seleção canarinho.
Depois do vice em 1950, Zizinho ainda venceu a Copa Rio Branco, o Campeonato Pan-Americano, a Taça Bernardo OHiggins, a Taça Oswaldo Cruz e a Taça do Atlântico com a Seleção Brasileira. O meia-atacante jogou pelo Bangu até 1957, quando se tranferiu para o São Paulo, onde também se tornaria ídolo por marcar 27 gols em 67 jogos, conquistando o Campeonato Paulista de 57.
Zizinho ainda atuou pelo Uberaba, de Minas Gerais, e pelo Audax Italiano, do Chile, clube pelo qual encerrou a carreira em 1962, aos 40 anos.
Conselhos a Gérson, o Canhotinha
Se o Mestre Ziza tinha habilidade com a bola dos pés, o mesmo pode se dizer em relação ao cuidado que tinha com quem considerava que era seu pupilo. Ídolo do Botafogo e Fluminense, o ex-volante Gérson de Oliveira Nunes, mais conhecido como Canhotinha de Ouro, teve o apoio decisivo de Zizinho no início da carreira. Além disso, o Mestre Ziza aconselhava o então jovem atleta a não se deslumbrar com carreira logo no início.
Em conversa com o jornal A Tribuna, Gérson recordou de um episódio quando morava na Praia de Icaraí. Ao passear com o carro, o canhota deu um acelerada próximo à Pedra de Itapuca. Depois que voltou para a casa, o pai deu uma bronca dizendo que ele era "jogador de futebol, e não piloto de Fórmula 1". Por isso, ficou proibido de dirigir por um mês.
Embora fosse o dono do carro, comprado com o próprio dinheiro, Gérson deu as chaves ao pai e obedeceu à ordem. Após a dura paterna, a mãe confessou que Zizinho viu o então jovem atleta acelerando o carro e imediatamente contou ao pai o que tinha visto. Posteriormente, encontrou-se com o Mestre Ziza, que não só admitiu ter feito o relato como também ainda deu uma bronca no canhota.
"Quando meu pai me deu essa bronca, matutei quem tinha falado com ele. E ao conversar com minha mãe, ela falou que o Zizinho é quem disse que eu estava acelerando na praia. Como ele morava em um apartamento na área, o Mestre Ziza me viu correndo da janela do apartamento (risos). Depois ele mesmo veio a mim e me disse: "Fui eu que falei para o teu pai, sim. Você é um bom jogador de futebol, mas não é piloto. Quer andar de carro e paquerar as namoradas? Então faça isso, mas não vem com história para o meu lado", recorda.
Gérson também dizia que ouvia muitos conselhos sobre posicionamento dentro de campo, principalmente como dar o bote na marcação adversária da forma correta.
"Direto ele me falava: "Gérson, olha o posicionamento!", "Não dá o bote de primeira". Ele me ensinou muita coisa", afirma Gérson, também salientando que Zizinho era uma pessoa muito amável, "de conversar com todo mundo e ser amigo dos amigos", mesmo com a fama de genioso que tinha.
Aposta com Chico Anysio
Uma curiosidade sobre Zizinho envolve o humorista Chico Anysio, também falecido. O ator contou em inúmeras ocasiões que certa vez, em uma mesa de bar, o colega Luiz Delfino (morto em 2005), famoso por participar de diversos humorísticos da TV Globo, afirmou que deixou Zizinho no banco de reservas no início de carreira.
Chico não acreditou e começou a rir, mas Delfino insistia
"Foi, sim. Zizinho foi meu reserva", afirmou de maneira categórica.
A história acabou em aposta, valendo o próprio jantar. Chico Anysio tinha o telefone de Zizinho, ligou e, do outro lado da linha, ouviu o gonçalense confirmar:
"É verdade, sim. Eu estava começando, tinha 16 anos e era reserva do Delfino no Byron de Niterói", reconheceu o Mestre Ziza, que ainda emendou.
"Olha, é a quinta ou sexta vez que o Delfino janta de graça com essa história", contou Zizinho a Chico às gargalhadas.