Assinante
Entrar
Cadastre-se
Em 1974, o genial cantor e compositor Jards Macalé, lançava o álbum Aprender a Nadar. Resolveu fazer o lançamento a bordo da Barca Rio Niterói, em um show inusitado para os passageiros e tripulantes. Durante a travessia, o irreverente artista conseguiu por em prática o plano arquitetado apenas com uma pessoa: quando a embarcação passava embaixo da Ponte Rio Niterói, Macalé fez um strip-tease, e só de cueca se atirou no mar.
Quem estava na Barca demorou uns segundos para entender o que estava acontecendo e na popa os passageiros questionavam onde estava o cantor? Eis que em fração de segundos a plateia flutuante começou a acompanhar o artista nadando na Baía de Guanabara. Risos, gargalhados, espanto e curiosidade.
Ninguém viu o barquinho que seguia a barca discretamente, parte do plano de Macalé que não é doido de se jogar em alto mar sem um suporte. Ainda mais lá, embaixo da ponte.
As braçadas de Macalé foram lembradas pelo próprio artista, que conversou com exclusividade com A TRIBUNA sobre o lançamento ao mar, quer dizer o lançamento no mercado do álbum Aprender a Nadar; além do show que vai fazer no Sesc Niterói na noite dessa sexta-feira (03), às 19h.
AT Não tem como começar essa entrevista sem perguntar: É verdade que o senhor tirou a roupa e pulou na Baía de Guanabara para lançar o seu disco?
Macalé É verdade. Eu fiquei de cueca e não fiquei pelado! Saímos do Rio de Janeiro até o Vão Central e embaixo da ponte eu pulei e nadei. Estava tudo planejado na minha cabeça e a única pessoa que sabia era o dono do barquinho que eu contratei para me resgatar.
AT E o que lembra desse dia?
Macalé Lembro que as pessoas explodiram de alegria, todo mundo batia palma... começou a cantar a música O Mambo da Cantareirade Gordurinha.
Só mesmo vendo como é que dói/ Só mesmo vendo mesmo como é que dói/ Trabalhar em Madureira viajar na Cantareira/ E morar em Niterói.
Eu nadava e via as pessoas olhando e brincando dentro da Barca. Nadei um pouco e o homem que estava no barquinho, que eu contratei, me ajudou a sair da água. Voltamos sentido Praça XV e cheguei primeiro que a embarcação.
AT Tem uma foto que mostra o senhor na estação e a Barca ao fundo chegando para atracar.
Macalé Sim. Eu cheguei primeiro e quando as pessoas desceram falaram comigo, eu agradeci a meus convidados um por um. Um dia inesquecível.
AT Além desse lançamento o senhor já se apresentou várias vezes em Niterói.
Macalé Sim. Várias vezes. Já me apresentei no Municipal nos meus 70 anos e na Sala Nelson Pereira dos Santos recentemente. Também gravei um disco sobre Ismael Silva. Gosto muito de Niterói, tenho boas lembranças.
AT O que espera desse show no Sesc Niterói que faz parte do álbum "Besta Fera"?
Macalé - A expectativa é sempre boa de tocar na cidade. O público é caloroso e muito bom, canta e repertório todo. O preço é convidativo e principalmente agora que as coisas estão muito caras e quase inacessíveis.
AT O senhor lançou esse álbum em 2019 e ele foi indicado ao Grammy Latino 2019 como 'Melhor Álbum de Música Popular Brasileira'. É uma obra atual e cheia de personalidade, né?
Macalé - São 12 canções, mas vou cantar mais alguns sucessos da minha carreira. Esse show faz parte da turnê de 2019, que foi interrompida por causa da pandemia e estou retornando em 2022. São várias músicas como Vampiro de Copacabana, Trevas, Tempo e Contratempo", enumerou Macalé.
AT O senhor sobe sozinho no palco?
Macalé - O meu trio vai comigo nesse show. O Pedro Dantas no baixo, Guilherme Held na guitarra e Marcelo Callado na bateria. São músicos maravilhosos! Será um belo show e espero o público lá!
DETALHES DO SHOW
A classificação etária é livre, os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada) e o Sesc Niterói fica na R. Padre Anchieta, 56 no Centro da cidade.
MAIS SOBRE O ARTISTA
De acordo com sua biografia, em 1969 subiu ao palco do Maracanãzinho no IV Festival Internacional da Canção para cantar Gotham City, subvertendo a ordem musical, cênica e comportamental no seu limite; ele fez um happening, tão em voga na época, sem precedentes. Misturou cinema, história em quadrinhos, teatro, música, artes plásticas e poesia.
Foi arranjador e músico dos baianos Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Participou em 1973, o show Banquete dos mendigos, com Raul Seixas, Paulinho da Viola e Chico Buarque. É sucesso com suas composições nas vozes de Nara Leão, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Frejat, Luiz Melodia e outros. Já foi tema de dois filmes Jards Macalé - Um morcego na porta principal, de João Pimentel e Marco Abujamra, de 2008, e Jards, de Eryk Rocha, de 2012.