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Diante da repercussão em que a situação pessoal exposta pela mídia da atriz Klara Castanho, de 21 anos, tomou no país, na manhã da última segunda-feira (27), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou um comunicado em que vem a público solidarizar-se com a artista e pela gravidade da história, a Diretoria Executiva e a Comissão de Mulheres do órgão vão encaminhar denúncia contra o jornalista Leo Dias à Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que deverá apurar o caso.
Por meio de uma carta aberta publicada no Instagram, no sábado (25), Klara Castanho revelou ter engravidado após estupro, entregue a criança à adoção, seguindo os trâmites legais e ameaçada por uma enfermeira.
"No dia em que a criança nasceu, eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: 'Imagina se tal colunista descobre essa história'. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para supostamente me acolher e proteger. Quando cheguei no quarto já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Eu não tive tempo para processar tudo aquilo que estava vivendo", contou a artista.
Não bastasse, a atriz precisou vir a público após Antonia Fontenelle expor seu caso em uma live no YouTube. Na sexta-feira (24) da semana passada, a apresentadora citou uma entrevista em que o colunista Leo Dias fala sobre uma atriz da Globo que teria rejeitado o filho logo após o nascimento do bebê.
Ao tomarem ciência da repercussão dos acontecimentos, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) e o Hospital e Maternidade Brasil informaram que abriram uma sindicância para investigar o vazamento de informações ao saberem que a atriz fora ameaçada por uma enfermeira após dar à luz a um bebê, fruto de uma violência sexual. A artista decidiu entregar a criança para adoção e afirmou ter recebido ligações de jornalistas, após a história ser revelada no último sábado (25).
O hospital, em nota, se solidarizou com Klara e tornou público que vai investigar o caso: "O Hospital Brasil tem como princípio preservar a privacidade de seus pacientes, bem como o sigilo das informações do prontuário médico. O hospital se solidariza com a paciente e familiares e informa que abriu uma sindicância interna para apuração desse fato".
Um dia depois, no domingo (26), foi a vez do Coren-SP se manifestar: "Nos compete apurar as situações em que haja infração ética praticada pelo profissional de enfermagem e adotar as medidas previstas no Código de Processo Ético dos Conselhos de Enfermagem (Cofen) na resolução nº 370/2010. Nesse sentido, o conselho seguirá os ritos e adotará os procedimentos necessários para a devida investigação, como ocorre em toda denúncia sobre o exercício profissional. Assim, o Coren-SP ressalta a cautela necessária para que seja tomada as medidas corretas para a apuração dos fatos", diz uma parte do comunicado do órgão.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também se pronunciou sobre o caso envolvendo a atriz Klara Castanho e fez o seguinte comunicado: "Por meio da Comissão Nacional de Mulheres, a Fenaj vem a público solidarizar-se com a atriz Klara Castanho, que teve uma situação pessoal exposta pela mídia, resultando em ataques pessoais aos quais teve de se defender com uma carta aberta em seu perfil no Instagram.
A atriz engravidou após um estupro e encaminhou a criança para adoção, cumprindo os trâmites legais. A situação, de caráter absolutamente particular e sigilosa, foi exposta pelo colunista do site Metrópoles, Leo Dias, no fim de semana.
Após a repercussão negativa, o link foi retirado do site. Mas a divulgação já havia desencadeado uma onda de ódio nas redes sociais, com novos ataques à honra da atriz, causando sua revitimização num já doloroso momento pessoal.
São fortes as evidências de que o colunista feriu o Código de Ética do Jornalista Brasileiro. Pela gravidade do caso, a Diretoria Executiva e a Comissão de Mulheres da Fenaj vão encaminhar denúncia contra o jornalista à Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que deverá apurar o caso, dando amplo direito de defesa ao profissional.
O caso serve para reafirmar a luta encabeçada pela Fenaj e os sindicatos de jornalistas filiados pela criação do Conselho Federal de Jornalistas (CFJ), uma forma de garantir uma profissão digna, com um contrato público e ético com a sociedade. Temos lutado pelo Conselho Federal dos Jornalistas para que as próprias entidades sindicais possam controlar a emissão de registros profissionais e promover a cultura do respeito ao Código de Ética, por meio da fiscalização", terminou o comunicado.
A TRIBUNA procurou a psicóloga Wilsimara Souza para falar sobre o trauma que a artista vai enfrentar e a especialista advertiu que casos como este é necessário sim, um tratamento para que o episódio seja esquecido ou superado com o passar dos anos: "Falar de um abuso sexual, é abordar sobre uma violência física e psicológica, com rupturas emocionais que podem ser levadas ao longo de uma vida inteira por quem a sofre. As consequências, na esfera psicológica, são inúmeras: gatilhos de culpa, problemas de auto aceitação, rejeição com o próprio corpo e principalmente dificuldades para se relacionar, uma vez que o limite e confiança ao estar com o outro, foi fortemente rompido", revelou.
Aliados a isso, além de baixa autoestima, ansiedade, depressão e um possível estresse pós-traumático, os danos à saúde podem ser irreversíveis. Mas, alerta a psicóloga, superar o trauma é o grande desafio: "Acolher e tratar esse trauma é um dos desafios do profissional da saúde mental, em uma sociedade que muita das vezes não acolhe o pedido de ajuda, de uma dor latente que fica de diversos modos após a violência sofrida. O acompanhamento psicológico, junto ao acolhimento da rede de apoio da vítima são de extrema importância, para o enfrentamento e superação do trauma deixado", finalizou.
Já a advogada Andreia Pereira, presidente da 8ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Gonçalo, faz um alerta: "Inadmissível alegar que a atriz klara Castanho tenha cometido algum ato ilícito perante a legislação brasileira. Ela encontra-se amparada pela Lei de Adoção (13.509/2017), que garante a entrega voluntária de uma criança ou recém-nascido caso a mãe não se considere capaz de assumir a guarda", contou.
A TRIBUNA procurou o colunista Leo Dias do site Metrópoles e o mesmo usou a assessoria para se pronunciar sobre o episódio: "Errei ao publicar qualquer linha a este respeito. Mesmo que a revelação da história não tenha partido de mim, mesmo que Klara tenha escrito uma carta pública narrando a dor que sentiu com toda esta violência e que eu só tenha escrito sobre o assunto após a carta dela ser publicada. Mesmo que eu soubesse de tudo desde o início, eu não deveria ter escrito nenhuma linha sobre esta história ou ter feito qualquer comentário sobre algo que não tenho o direito de opinar. Apesar da minha proximidade com o fato, reconheço que não tenho noção da dor desta mulher. E, por isso, peço, sinceramente, perdão à Klara".
Já a assessoria de Antonia Fontenelle não nos respondeu até o fechamento desta matéria.