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Família de criança baleada vai processar o Estado
Família de criança baleada vai processar o Estado
Foto do autor A Tribuna A Tribuna
Por: A Tribuna Data da Publicação: 10 de novembro de 2020FacebookTwitterInstagram

Raquel Morais

“Eu tive medo. Um medo que nunca senti. Medo de perder o meu filho”. Esse foi o depoimento emocionante do técnico em informática, o niteroiense Ney Carlos dos Santos Chagas, de 34 anos, que passou por uma situação muito complicada no último dia 28 de outubro. Seu filho Kauã Ney Xavier Chagas, de 8 anos, foi baleado durante uma troca de tiros entre criminosos e policiais do 12º BPM (Niterói), na Engenhoca, em Niterói, dentro do carro da família.

Após o dia de trabalho o técnico foi com a esposa e o filho, de carro, entregar um documento para uma amiga da sua companheira. O trajeto seria comum: do Caramujo até Avenida Professor João Brasil. Mas antes do destino final uma perseguição policial aconteceu na mesma rua que a família estava dirigindo, na altura do número 1500 da própria avenida. “Ouvi dois tiros e parei o carro. Minha esposa e meu filho choraram de nervoso e de medo. Quando eu ia seguir viagem senti a voz do meu filho diferente e como se estivesse arrastada. Acendi a luz do carro e coloquei a mão na cabeça e nas costas dele para ver estava bem. Quando coloquei a mão na coxa dele minha mão ficou completamente cheia de sangue. Eu achei que ia enfartar. Meu filho estava baleado na minha frente”, lembrou emocionado.

Tudo aconteceu em poucos segundos mas relembrar a história parece um filme de terror de algumas horas. Ney começou a gritar e pedir ajuda e uma viatura de polícia passou pelo local e os militares prestaram ajuda para o pequeno Kauã. “Nesse momento foi muito difícil. Vi os policiais levarem meu filho dentro da viatura. Tentei acompanhar eles dirigindo atrás mas eles foram muito rápidos e perdi de vista. Não consigo nem descrever o que eu senti”, recordou. O ponto de encontrou foi o Hospital Azevedo Lima (Heal), no Fonseca, mas quando Ney chegou o seu filho já estava em atendimento.

Além de toda a dor de estar passando por uma situação diferente e inusitada, nunca imaginada, Ney ainda passaria por mais problemas. Segundo ele o atendimento não foi bom e uma funcionária destratou o pai que estava nervoso com toda a situação. “Eu estava perguntando se meu filho estava bem e a funcionária me disse que eu estava atrapalhando o atendimento. Eu estava falando baixo mas estava nervoso, afinal, o meu filho tinha acabado de ser baleado. Ela me retirou da sala de atendimento e da tomografia e começou a implicar comigo, me impedindo de ver meu filho, que chamava por mim o tempo todo”, contou.

Depois de algumas horas o menino foi liberado para casa. “Como o meu filho levou um tiro, foi feito um curativo e liberado para casa? Ele só teve perfuração de entrada e a bala, teoricamente não saiu. Olhei meu carro e não vi o furo de saída. Isso tudo já me deixou muito preocupado. Depois de três dias voltei no hospital para pegar o resultado da tomografia. Em casa eu vi as imagens e vi a a bala alojada dentro da coxa do seu filho”, contou Ney.

Ao voltar para a unidade para indagar esse procedimento, de terem mandado o filho para casa, eu não tive nenhuma explicação e assim estou até hoje. “Eu queria que meu filho fosse atendido de maneira completa. Que um médico falasse tudo para a gente. Será que ele pode ficar com a bala alojada para sempre? Será que tem risco de deslocamento? Será que pode dar infecção? São muitas questões. Não estamos falando de um machucado normal, estamos falando de uma bala dentro do corpo de uma criança, e no caso é o meu filho. Eu preciso lutar por ele. Estamos abalados psicologicamente e ainda não estamos tendo o tratamento de qualidade”, esbravejou.

TRAUMA

Kauã é um menino ativo, brincalhão, disposto e forte. O pai contou que ele quase não reclama de dores e voltou as suas atividades normais. Brinca, assiste televisão e usa a internet. Mas entre as atividades ele tem momentos de medo e chega a abraçar o pai muitas vezes ao dia. Entrar no carro também está sendo tarefa difícil para o pequeno. “Ele não quer entrar no carro. Ficou com medo. Eu tento explicar para ele que não terá problema e que o que aconteceu foi uma fatalidade. Eu faço o curativo e devido a gravidade da situação eu preciso dar atenção para ele. Está quase sarando o ferimento. Ele conversa comigo e entende o que aconteceu e pouco reclama de dor. Mas vou trabalhar para meu filho não ficar com nenhum trauma”, contou o pai.

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