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O presidente da Representação Leste Fluminense da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano, em entrevista exclusiva para A TRIBUNA fala sobre os impactos da pandemia nas indústrias. Ele fez projeções de retomada de alguns setores e opinou sobre a reforma tributária com mudanças no PIS e Confins. O empresário Luiz Césio Caetano é também presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social da Firjan e presidente do Sindicato das Indústrias de Refinação e Moagem de Sal do Estado do Rio de Janeiro.
A TRIBUNA - Quais os efeitos da pandemia nas indústrias?
Luiz Césio Caetano - Não poderia ser exceção e o impacto foi muito negativo. Inicialmente no mês de março e abril não foi tão sentido, pois a indústria faz parte da cadeia, recebe suprimentos, processa e vende. Então, dentro dessa cadeia no início ela não sofreu tanto pois havia demandas. Mas com o passar do tempo ela foi impactada negativamente por dificuldade de suprimentos e depois por falta de mercado. O mercado foi se retraindo e não havia mercado, poderiam estar produzindo, mas reduziram drasticamente suas atividades, principalmente por falta de um mercado que absorvesse seus produtos. O impacto foi negativo, na maior parte das vezes, não por incapacidade da empresa de produzir por algum óbice, mas principalmente por falta do mercado consumir. Se retraiu muito de um modo geral.
A TRIBUNA - Qual segmento sofreu maior impacto negativo?
Luiz Césio Caetano - As indústrias de transformação, de um modo geral, foram muito impactadas. A construção civil praticamente paralisou, o metal mecânico praticamente paralisou. As indústrias mais voltadas para o consumo de alimentos não tiveram impacto forte. Mas os demais segmentos foram todos muito impactados. E somente a salvação foi o mercado de alimentos, de um modo geral, nos seus diversos segmentos alimentos em conserva, alimentos perecíveis. Mas todos eles tiveram impacto, muita redução pela própria necessidade do consumidor.
A TRIBUNA - Qual a perspectiva para o futuro?
Luiz Césio Caetano - A Firjan trabalha intensamente nesse período, nesses últimos quatro, cinco meses, para minimizar o impacto na indústria e a sua retomada. Nesse sentido duas ações bem caracterizadas. Uma resiliência produtiva onde durante a pandemia a Firjan encaminhou pleitos, seja a nível municipal, estadual, ou federal no sentido de minimizar impactos e solucionar alguns problemas como na área trabalhista e tributária. Tivemos em torno de 80 pleitos encaminhados e cerca de 80% desses pleitos foram atendidos. Temos algumas ações que ainda estão em andamento dentro dos pleitos atendidos. Por outro lado a Firjan fez um trabalho muito intenso de avaliar como a retomada pode acontecer com mínimo impacto para o Estado. Quais os setores e segmentos que precisariam ser avaliados e incentivados para essa retomada. Nesse sentido houve um entendimento com Alerj, que recepcionou muito bem nossa proposta e foi encaminhada para a Alerj uma proposta de retomada econômica do Rio de Janeiro com os principais eixos. Alguns especificamente no sentido de dar competitividade nesses segmentos, a exemplo do metal mecânico, que foi um pleito atendido pela Alerj para dar competitividade ao setor metal mecânico no Estado do Rio. Tenho muita confiança de que isso venha ocorrer. O grande desafio é o mínimo de impacto fiscal no Estado. Também isso está sendo considerado para minimizar o impacto fiscal. Estamos trabalhando nessa direção e a retomada vai acontecer lentamente, até porque o mercado vai retomar lentamente, mas há um apoio bastante efetivo nesse sentido.
A TRIBUNA - A dragagem do Canal de São Lourenço representará uma grande recuperação?
Luiz Césio Caetano - Sem dúvida. Isso é um pleito antiquíssimo e existe há décadas no setor industrial e de serviços de Niterói. Essa dragagem está intimamente ligada à condição básica para que o projeto PoloMar avance. O projeto PoloMar Niterói é a revitalização da frente marítima de Niterói. Tem também alguns eixos de atuação como o porto, o setor de reparos navais, a área de pesca e o próprio Mercado Municipal, que está inserido nessa frente marítima. Serviços que virão acoplados a toda uma cadeia. É fundamental que esse projeto avance. A Prefeitura já está preparando o edital e a previsão do prefeito e da Secretaria (de Desenvolvimento Econômico) no sentido que esse edital possa estar finalizado até novembro. Tenho muita convicção que isso vai acontecer pois a Prefeitura está sendo uma parceira muito importante junto com a Firjan e o empresariado.
A TRIBUNA - A Região Leste Fluminense tem em sua maioria que tipos de negócios? Ela foi muito afetada?
Luiz Césio Caetano - A vocação da região é petróleo e gás. Niterói, Maricá e Rio das Ostras, têm uma identidade muito forte. Nós temos na região de Niterói a construção civil que se estende até a Região dos Lagos. Temos o turismo da Região dos Lagos e na região de Silva Jardim e Casimiro de Abreu temos a agroindústria e um potencial de desenvolver bastante significativo.
A TRIBUNA - A Pandemia impactou muito o Leste Fluminense?
Luiz Césio Caetano - Impactou. Acho que Niterói especificamente conseguiu fazer alguns programas de apoio aos empresários e empresas. Apoio à fatia da população mais necessitada e acho fundamental para que a cidade sofresse menos o impacto. Mas nas demais cidades que não tiveram condições de fazer esse suporte às empresas o impacto é maior. Particularmente acho que ainda vamos passar por uma situação mais delicada, quando nós falamos de municípios para o final do ano. O impacto já chegou e os efeitos vão começar a se efetivar nos municípios agora nesse segundo semestre.
A
TRIBUNA - Na Região dos Lagos tem algum setor que ganha
destaque?
Luiz Césio Caetano - Sem dúvida, pois é
o único lugar do Leste fluminense do Rio de Janeiro que pode
produzir sal. É uma indústria que perdeu ao longo dos anos seu
protagonismo e é uma indústria importante na região. Tem empresa
grande que tem a marca que é líder de mercado. Mas participação
do PIB no Leste Fluminense e dentro do Estado não é muito
significativa. Mas é uma indústria extremamente tradicional com
suas salinas e moinhos que ainda existem. É uma atividade que
emprega mais de mil pessoas.
A TRIBUNA - O que o senhor acha da reforma tributária que será apresentada no Congresso? Como enxerga a unificação do Pis/Confins?
Luiz Césio Caetano - Nós temos três propostas no Congresso que estão sendo discutidas ainda. Tem a PEC 45, a PEC 110 e a CBS. A tendência é que a reforma seja mais ampla do que somente o PIS e Confins como o Governo encaminhou agora recententemente. Na reunião dos secretários de Fazenda de todo o Brasil, no Fórum dos Secretários de Fazenda, eles fizeram algumas propostas bastante interessantes no sentido de ampliar essa reforma. Incluir, sim, o ICMS também. Então acho que está em discussão e é difícil tomar uma posição e dizer qual é a melhor, mas acho que a melhor reforma saíra exatamente dessa discussão. Tem duas discussões bastante adiantadas, as duas PECs, e agora com a abertura que a pandemia está permitindo fazer, com a inclusão desses atores, como os secretários de estado. A Frente também vai participar dessa discussão pois tem o ISS que deverá ser definido. Dessa discussão que sairá a melhor proposta. Acho extremamente necessário e sem essa reforma tributária eu vejo pouca chance do país sair do buraco.
A TRIBUNA - O que a Firjan acha da proposta do Guedes de taxar o papel imune para livros, jornais em 12%?
Luiz Césio Caetano - Essa é uma proposta recente, colocada agora e que ainda está em avaliação para saber a extensão que isso causa. Mas na segunda passada (10) tivemos uma reunião da Firjan com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o setor gráfico do Rio de Janeiro levou esse pleito ao presidente no sentido de que o setor seja incluído nessa discussão. Acho extremamente importante o Rodrigo Maia ter acolhido esse pleito do setor gráfico e oportunamente essas discussões se desenvolverão. O setor gráfico e a Câmara vão chegar a um denominador que seja adequado e próprio para o governo e também para a indústria gráfica.