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Nesta quarta-feira (30), foi realizada a segunda e última audiência de instrução do processo que apura a morte da menina Ana Clara Gomes Machado, de apenas 5 anos, em fevereiro deste ano, na Comunidade do Monan Pequeno, Região de Pendotiba de Niterói. O policial militar Bruno Dias Delaroli, apontado como autor do disparo que vitimou a menina, prestou depoimento.
Ouvida na primeira audiência, que aconteceu em maio, Cristiane Gomes, mãe de Ana, esteve novamente presente no Fórum de Niterói, para acompanhar a sequência das oitivas. Segundo ela, o agente mentiu em seu depoimento. Cabe ressaltar que Bruno teve novo pedido de liberdade negado pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal, responsável pelo processo.
"Dia 27 de maio houve uma audiência em que as testemunhas falara. Eu, minha irmã, outra testemunha, policiais que estavam no dia e o delegado. Ontem foi ouvido o Bruno e o perito. Ele contou aversão dele, que a gente sabe que está errada, ele mentiu o tempo todo, mas ele tem o direito de defesa. O advogado pediu para ele responder em liberdade, mas a juíza negou", afirmou Cristiane.
"Ele disse que havia cinco homens que deram tiros nele, absolutamente mentira. Disse que não deu tiro na escada, mas Ana Clara foi alvejada com dois tiros de fuzil. Disse não ter visto o Maikon [morador da região], mas ele deu tiro em cima do Maikon. Enfim, ele mentiu em tudo o tempo todo. O perito mesmo relatou que não tinha vestígios de uma suposta troca de tiros e que os tiros que atingiram Ana Clara foram de [fuzil] 7.62. O fuzil do PM era um 7.62 e só ele atirou. Ele jura que não foi ele que alvejou ela, então quem foi?", questionou a mãe da menina.
Por fim, Cristiane afirma acreditar que o acusado será responsabilizado pela morte de sua filha. Ela também relembra que o policial é acusado pela morte de um homem, que aconteceu no ano de 2014. A mãe da menina acredita que, caso ele tenha sido punido de forma mais severa, naquela ocasião, a vida de Ana Clara teria sido poupada. Ela encerra seu emocionado relato com uma triste conclusão: ao invés de nos proteger, nos matam.
"Eu tenho muita fé que ele seja responsabilizado sim. Como ele sobe uma comunidade, dando tiros, sem que houvesse nenhuma tentativa contra a vida dele? Ele sendo policial deveria saber que na favela moram pessoas do bem. Em 2014 foi acusado de matar um rapaz com três tiros nas costas. Em 2018 ele foi culpado por esse homicídio e em 2019 foi confirmada a culpa. Se ele tivesse sido responsabilizado e preso, ele não teria matado Ana Clara. Eu vou até o fim pra que ele pague pelo que fez e o Estado aprenda a preparar seus policiais. Ao invés de nos defender, nos matam", concluiu.
O que diz a defesa
De acordo com a advogada Fabiani Lagoas, responsável pela defesa de Bruno Dias Delaroli, com o encerramento dos depoimentos, o processo entra na fase de alegações finais. Ela confirma que houve o indeferimento do pedido de liberdade proposto pela defesa. Questionada sobre qual será a estratégia da defesa, Fabiani preferiu não antecipar para que não atrapalhe posteriormente.
"A instrução foi encerrada, todas as testemunhas foram ouvidas e agora abriu prazo para as alegações finais, para que a juíza possa melhor decidir sobre o fato. A juíza indeferiu por ora [o pedido de liberdade], para que as partes apresentem as razões finais por escrito. Ela suspendeu o julgamento a pedido da promotoria, tendo em vista que a promotora não participou da primeira audiência e por essa razão não poderia se manifestar na hora. A defesa aguarda a apresentação pelo MP", afirmou.