Augusto Aguiar -
A Operação Saigon, da Polícia Civil, desarticulou desde as primeiras horas da manhã de ontem (13) um grande esquema de contravenção, no qual a cúpula do jogo de bicho explorava cerca de 300 pontos de apostas em São Gonçalo. A operação, que cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão, vasculhou até endereços apontados como nobres em Niterói, como um prédio de luxo na Rua Marquês do Paraná, na região central. O objetivo da ação foi cumprir um total de 80 ordens judiciais.
A Operação Saigon também teve a participação de agentes do Ministério Público (MP) e a Secretaria de Segurança do Estado. Entre os denunciados estavam dois policiais civis da ativa lotados na delegacia de Rio do Ouro (75ª DP) e de Maricá (82ª DP), além de policiais militares da reserva ou reformados. As investigações apontaram que os contraventores exploravam 300 pontos de apostas, com movimentação financeira mensal superior a R$ 10 milhões. De acordo com o inquérito, a organização criminosa seria chefiada pelos irmãos Luís Anderson de Azeredo Coutinho e Alexandre de Azeredo Coutinho, conhecido como Tchoco.
O inquérito apura denúncias de crime de corrupção ativa, passiva e peculato, e os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal de São Gonçalo. A operação contou com a participação de 35 delegados de polícia e 210 agentes. A máfia da contravenção explorava o jogo do bicho em São Gonçalo. A estrutura da organização se dividia em arrecadadores (responsáveis pelo fechamento das apostas em cada ponto), seguranças, subgerentes, gerentes e donos do ponto de apostas (bicheiros). Além disso, foi constatada a atuação de agentes e ex-agentes das forças de segurança do Estado no esquema, garantindo a omissão das instituições públicas na repressão da atividade ilegal, mediante o pagamento de propina para funcionamento do grupo criminoso.
Entre os denunciados não estavam apostadores, pois a investigação foi direcionada para os chefes e os escalões superiores da organização criminosa. Ainda de acordo com a polícia, o esquema era tão organizado que tinha até setor de reclamação.
Policiais recebiam até R$ 7 mil por mês
Segundo a polícia, o objetivo foi cumprir mandados contra a família de Dona Renee, falecida no curso das investigações e apontada como matriarca do jogo do bicho na Região Metropolitana. Os irmãos Luis Anderson Azeredo Coutinho e Alexandre de Azeredo Coutinho são netos de Dona Renee e apontados como chefes do esquema. Alexandre foi preso em Cabo Frio, na Região dos Lagos, e seu irmão no Centro de Niterói. Um dos acusados, identificado como Patrick, apontado como tesoureiro da organização criminosa, não foi encontrado em sua residência, onde os agentes apreenderam planilhas de pagamentos e vários outros indícios de envolvimento no esquema.
De acordo com o delegado Cristiano Maia, da Corregedoria da Polícia Civil, a investigação durou pouco mais de um ano, acrescentando que há nos autos elementos probatórios, como homicídios com características de execução, tentativas de homicídio, queima de arquivo, proteção territorial, além de peculato. Na casa de Luiz Anderson, no Centro de Niterói, a polícia apreendeu R$ 48.674 em espécie, além de joias de ouro.
Eles (os policiais) aderiram ao esquema e recebiam em média de R$ 6 a 7 mil por mês, além de ter até plano de saúde. Eles recebiam salários para se integrarem ao esquema e recebiam salários como se fosse em uma empresa, afirmou o delegado.
Os agentes informaram ainda que Luiz Anderson chegou a cumprir pena por homicídio, o que no entanto, não o impediu de comandar o esquema de contravenção de dentro da prisão. Escutas autorizadas pela Justiça monitoraram ligações entre celulares na da cadeia. O suspeito obteve habeas corpus e respondia em liberdade até ser preso ontem. A denúncia narra que um policial civil aposentado, identificado como Allan Kardec Silva Menezes, seria o elo entre os criminosos e as delegacias de polícia. Ele aproveitava sua condição de policial civil aposentado para transitar pelas unidades de polícia responsáveis por reprimir a prática da contravenção do jogo do bicho. Na mesma operação, carros de luxo foram apreendidos na cúpula da organização criminosa.