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Eula Silva. Eduardo Souza. Fabiana Anjos. A dor, a dificuldade financeira e a miséria têm nome e sobrenome. Moram em bairros centrais de Niterói. Vivem, ou sobrevivem, ao lado de grandes centros comerciais. Mas uma porta de madeira sem fechadura separa essa triste e dura realidade de quem passa necessidade daqueles que tem uma vida confortável. Com o preço do botijão de gás nas alturas, a única forma que muitas pessoas encontram para cozinhar os poucos alimentos que possuem, é a mais primitiva: a lenha. O consumo de lenha está crescendo e dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), através do Balanço Energético Nacional (BEN) 2021 do Ministério de Minas e Energia, comprovam essa alta desde o ano passado.
O consumo da lenha residencial aumentou 1,8% em 2020, sendo a segunda fonte mais consumida nas residências, ficando atrás apenas da eletricidade. De acordo com a Superintendente de Estudos Econômicos e Energéticos, Carla Achão, a lenha é a segunda fonte mais consumida nos domicílios atualmente (26,1%), sendo superada pela eletricidade, que figura em primeiro lugar (46,4%).
A dona de casa Eula da Silva, de 65 anos, vive com R$ 400 por mês e precisa usar lenha para conseguir cozinhar. Ela atualmente mora sozinha em São Domingos e usa a estrutura antiga de uma churrasqueira para acender madeira, espuma e até mesmo plástico para cozinhar. Eu faço feijão e macarrão na lenha. Eu pego os caixotes de frutas e legumes que os funcionários de restaurantes jogam fora e acendo o meu fogão. A situação é muito difícil e eu vivo apenas com uma ajuda de R$ 400. Eu coloco um lenço no cabelo para proteger do cheiro da lenha, frisou a mãe de três filhos e avó de sete netos. Eula mora com o pedreiro Eduardo de Souza, 54 anos, que a ajuda a acender o fogo. A vida não está fácil, resumiu o homem em poucas palavras.
E se engana quem acha que o caso de Dona Eula é isolado. No mesmo bairro a manicure Fabiana dos Anjos, 40 anos, também usa a lenha para cozinhar, isso quando ela consegue pegar lenha no lixo. E não é só a madeira que vem do lixo que a moradora de Niterói aproveita. Ela todos os dias a noite percorre algumas ruas e pontos específicos para catar a xepa, o que lhe garante alimento para o dia seguinte. Eu como arroz, e esses legumes e verduras que cato no lixo. Quando tem feijão eu como também. Eu lavo e aproveito o que dá para aproveitar. Eu cozinho eles no fogo de lenha. Eu não tenho como usar R$ 100 para comprar um gás, lamentou.
Fabiana contou que vive com R$ 375 e que recebe ajuda de cesta básica das igrejas, mas isso acontece apenas de dois em dois meses, pois existe uma fila e todos são atendidos. Minha vida nunca foi fácil. Sou órfã de pai e mãe, vivi em um abrigo em Volta Redonda e tenho quatro filhos e um neto que está para nascer. Eu vivo apenas com meu companheiro e a gente passa muita dificuldade, pontuou com tristeza.
AUMENTOS
Somente esse ano, o gás de cozinha já aumentou cerca de 90%. E a gasolina acumula alta de 57,3% E no último dia 9, o preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha, passou por ajustes nas distribuidoras. O preço médio e venda do gás de cozinha passou de R$ 3,60 para R$ 3,86 por quilo, ou de R$ 46,80 para R$ 50,18 por botijão, aumento de R$ 3,38 por botijão, ou R$ 0,26 por quilo. Semanalmente a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulga um levantamento de preço do GLP nas cidades. Em Niterói o preço médio é de R$ 85,28, sendo o valor mais baixo R$ 81,99 e o máximo R$ 88. A Petrobras informou que manteve por 95 dias os preços estáveis no gás de cozinha, nos quais a empresa evitou o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais, a companhia realizará ajuste no preço do GLP para as distribuidoras, informou a companhia, em nota.
Raquel Morais
Fotos: Raquel Morais