Os belos jardins arborizados e floridos da grande maioria dos cemitérios particulares contrastam com a dura e triste realidade de quem precisa recorrer aos espaços públicos. Sujeira, abandono, mato e até caçamba e pilha de caixões apodrecendo fazem parte do cenário dos cemitérios públicos de Niterói e São Gonçalo. Apesar de ainda faltar mais de um mês para o Dia de Finados, em 2 de novembro, a impressão é de que muito pouco, ou quase nada, poderá ser feito até lá para minimizar os problemas.
O Maruí, no Barreto, sofre há anos com o abandono. Apesar das visíveis obras recentes e da Prefeitura ter anunciado na semana passada o edital para escolha da empresa que será responsável pela reforma, o aspecto continua ruim. Muito lixo e sujeira se acumulam no local, sobretudo nas áreas mais afastadas. Em abril deste ano, A Tribuna mostrou a situação do cemitério e, das medidas anunciadas na época, quase nenhuma saiu do papel.
No próximo dia 28, às 11h, haverá apresentação de propostas, por empresas interessadas, para participar da licitação que escolherá a que fará as obras de reforma do Maruí. O valor máximo estimado é de R$ 1.499.728,44. A empresa escolhida vai realizar serviços como recuperação de instalações e acabamentos das oito capelas com área de recesso e sala de descanso; sanitários para uso público; depósito de material de limpeza, cantina com cozinha, refeitório; áreas comum de circulação e almoxarifados. Serão reformadas a Sala de atendimento da agência; sala de mostruário de urnas e garagem, entre outros serviços. A obra deverá durar nove meses.
O Cemitério São Lázaro, em Itaipu, apresenta uma situação ainda pior que a do Maruí. Se no Barreto alguns funcionários são vistos realizando pequenos serviços, na Região Oceânica apenas um servidor estava presente na administração na manhã de ontem. Do lado de dentro, uma caçamba cheia de lixo e entulho dividia espaço com as deterioradas sepulturas, apesar de não haver nenhuma obra no local.
Em resposta, a Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento (Emusa) reforçou o lançamento da licitação para reforma do Maruí e afirmou que estuda a realização de obras nos outros cemitérios da cidade. A manutenção nos locais, segundo a Emusa, é realizada pela Diretoria de Pavimentação e Reparos (DPR). A caçamba de lixo localizada no Cemitério São Lázaro é utilizada para recolher os resíduos de varrição e é esvaziada de acordo com a demanda.
Em São Gonçalo, o assunto foi alvo de graves denúncias por parte de um vereador e, por pouco, não se tornou tema de uma CPI no Legislativo. O cenário de abandono e descaso se repete na cidade vizinha. No Cemitério São Gonçalo, um dos principais da cidade, funcionários até cuidavam da limpeza, mas nas sepulturas mais afastadas da entrada, o cuidado nitidamente não era o mesmo. Já no Cemitério São Miguel, nem era preciso ir muito longe. Bem próximo ao portão principal, uma pilha de caixões podres chamava a atenção das poucas pessoas que estavam no local ontem de manhã.
CPI
Em junho deste ano, a Câmara de Vereadores de São Gonçalo realizou audiência pública para debater e denunciar a atual situação dos cemitérios públicos do município. O autor do requerimento, vereador Sandro Almeida (PHS), denunciou, na época, um cenário de suposta propina envolvendo dinheiro público pago pelas funerárias para os responsáveis pela administração dos cemitérios públicos da cidade, denunciado por uma ex-funcionária da prefeitura.
Na ocasião, houve uma tentativa de abertura de uma CPI dos cemitérios com 11 assinaturas, mas não passou porque três vereadores, Cacau (PRTB), Nathan (PSB) e o professor Gallo (PCdoB), retiraram o nome em cima da hora.
Através de investigações constatamos que há indícios de participação da primeira-dama Eliane Nanci, que é acusada de desviar dinheiro dos cemitérios, por orientação do prefeito Nanci, disse o parlamentar na época.
A Prefeitura de São Gonçalo foi procurada pela reportagem para comentar o assunto, mas não respondeu.