Wellington Serrano
A forte crise econômica vem afetando não só as grandes empresas do país, mas o setor de serviços e lazer também. Em Niterói, a baixa frequência em restaurantes, tanto os sofisticados quanto os mais simples, é um termômetro do momento. Na cidade sorriso, os restaurantes Fragatas Beer, Campeão e o mais recente, Steak House, todos em Icaraí, sofreram com os efeitos dessa recessão, como a queda na frequência dos clientes, e a necessidade de subir os preços no cardápio devido à inflação e fecharam as portas.
Para o corretor Felipe dos Santos, ex-cliente do Steak House, localizado na Gavião Peixoto, em Icaraí, na Zona Sul de Niterói, fica difícil sair para comer fora de casa nessa situação em que todos estão pensando em economizar dinheiro.
O custo de vida encareceu e a alimentação fora de casa é uma das primeiras despesas a ser cortada. Fazer compras nos mercados e cozinhar em casa acaba sendo a melhor opção, lamentou Felipe.
O ex-funcionário do Steak, o açougueiro Antônio, que trabalhou por 20 anos no local, lamentou o fechamento do restaurante. Ele disse que, junto a alguns funcionários, está sem receber desde dezembro. Sem dinheiro até para voltar para casa, o açougueiro fez até uma paródia triste para ilustrar a situação: Saudade palavra triste quando se perde um trabalho. A vida é assim, agora resta saber se conseguirei resgatar meu fundo de garantia, ressaltou.
O fechamento do tradicional restaurante pegou muita gente de surpresa, como o morador da Rua Otávio Carneiro, Hélio Ramos, de 60 anos. Culpa do governo corrupto que não ajuda ninguém em nada, criticou.
Funcionários do comércio do entorno lamentaram a decisão. Todos os domingos levava a família para almoçar lá porque era muito aconchegante. Agora o que será de nós?, indagou o balconista da farmácia ao lado Eduardo Silva.
Para outras casas, a situação ficou ainda pior, como no caso do tradicional Fragatas Beer, na Moreira Cesar, que fechou suas portas após anos funcionando no mesmo ponto. Além do Fragatas, outros restaurantes também fecharam as portas, como o caso do Bar Campeão, na Rua Comandante Queiroz.
Conforme números da economia em Niterói, 1.648 negócios foram extintos de janeiro a setembro de 2016 (8% a mais que janeiro a dezembro de 2015). Os setores mais afetados foram o comércio varejista de roupas e acessórios (63 empresas); lanchonetes (56) e restaurantes (34). A queda nas vendas girou em torno de 35%.
Dados do Sindilojas mostram que quase 10 mil empregos formais foram perdidos em 2016, dos quais 1.759 só no comércio. O presidente da entidade, Charbel Tauil Rodrigues, disse que com certeza pode-se falar que foram centenas de estabelecimentos comerciais que fecharam as portas em Niterói ao longo de 2016, num inegável reflexo da crise econômica que vem afligindo o país como um todo.
Aqui em nossa cidade alguns fatores agravam a situação: em primeiro lugar, os altíssimos valores cobrados de aluguéis e luvas, quase sempre totalmente fora da realidade do mercado; além disso, temos três dos maiores empregadores da nossa população fortemente afetados pela recessão, que são a indústria naval, o setor de petróleo e a administração estadual. Some-se a isto a legislação trabalhista anacrônica e a pesada carga tributária brasileira e temos como resultado, infelizmente, um número cada vez maior de lojas tendo que fechar as portas, concluiu o presidente.