Pedro Conforte/ Raquel Morais
Eles [policiais] defendem a população, mas quem defende eles? Nós que temos que defender nossos pais, maridos e filhos, declarou Wanessa Alves, esposa de um policial do 12º BPM (Niterói). Com esse argumento, dezenas de familiares ocuparam ontem as portas de batalhões pelo Estado, inclusive São Gonçalo e Niterói. Em ambas as cidades, momentos de tensão foram registrados entre as mulheres e os comandos dos batalhões. Viaturas estão espalhadas pelas cidades para não precisarem retornar e ficar presas nos quartéis. De acordo com o porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, as manifestações já eram previstas e a corporação tomou medidas para garantir o patrulhamento. Em Niterói, blocos que sairiam neste fim de semana foram cancelados, por conta da possível falta de policiais para manter a segurança.
Mulheres e mães de policiais militares se organizaram por redes sociais e chegaram ao Batalhão de Niterói antes do sol nascer. Com cartazes e garrafas de água mineral, cadeiras e barracas elas permitiram a entrada de viaturas, mas impediram a saída de policiais fardados. Elas reivindicaram melhores condições de trabalho para os policiais e o pagamento dos salários atrasados, inclusive o décimo terceiro.
Chegou a um ponto que não existe mais outra saída. Os jornais noticiam diversos assassinatos de policias por todo o Estado, fora o alto índice de suicídio dos PMs. Ele sai de casa, passa perigo na rua e ao chegar em casa vê sua família sem comida na mesa, seus parentes passando necessidade. Abaixo da farda há uma pessoa como qualquer outra que precisa pagar as contas. Iremos ficar aqui até conseguir o mínimo para os nossos policiais, declarou Wanessa Alves, de 28 anos.
Em Niterói, o comandante do 12º BPM, coronel Márcio Rocha, garantiu pela manhã que o policiamento seguiu normal pela cidade. Ele afirmou que o protesto é pacífico e que os policiais estão tanto em Niterói quanto em Maricá. Apesar disso, no final da manhã houve confusão entre o comandante e os manifestantes, que tentaram amarrar faixas na porta do batalhão. Houve momentos de tensão, inclusive há relatos de policiais sendo conduzidos para dentro do batalhão por estarem próximos a manifestação e de agressões contra as mulheres.
À tarde, no horário da troca de turno, o clima voltou a esquentar. Uma briga generalizada entre as mulheres dos policiais e o comandante do batalhão. Uma das manifestantes, que estava grávida, se jogou no chão para impedir a saída das viaturas e foi retirada à força por policiais. Uma outra manifestante, Érica Frazão, que também é esposa de um policial, afirmou que foi agredida fisicamente pelo comandante do batalhão.
"Ele me agrediu, bateu em mulher, estou sem comida em casa, luto pelos policiais militares deste estado falido e o que recebemos é isso, agressão em mulheres", disse a manifestante enquanto era atendida por uma ambulância que passava pelo local.
"Há um planejamento prévio que conseguiu colocar as viaturas nas ruas, de modo que hoje temos 95% do efetivo já pronto, atuando", explicou o major Ivan Blaz, porta-voz da PM, que afirmou que os comandantes dos batalhões estão encarregados de negociar. Em Niterói viaturas estão espalhadas por diversos pontos, inclusive o abastecimento está sendo feito em um posto, fora das dependências do batalhão.
Também houve relatos de escolas públicas e privadas que teriam cancelado as aulas da sexta-feira. Muitos pais resolveram não levar os filhos para as escolas por medida de precaução, mas não teve nenhuma determinação da Fundação Municipal de Educação para que as escolas liberassem os estudantes antes do horário da saída. Ainda segundo a nota, apenas a Escola Municipal Maestro Heitor Villa-Lobos, na Ilha da Conceição, liberou os alunos mais cedo por uma decisão da diretora.
Carnaval cancelado
O comandante do 12° BPM, comandante Márcio Rocha, solicitou a suspensão dos blocos que ocorreriam neste final de semana, devido a possíveis manifestações de familiares dos PMs, inviabilizando a passagem dos blocos, pela falta de segurança. Em nota divulgada na sexta-feira, a Empresa Niterói Lazer e Turismo (Neltur) comunicou que os blocos Mancando de Ré, em Santa Rosa, Santo Bateu, em Boa Viagem, Bloco Sosseguei + Samba dos Amigos, em Icaraí, que desfilariam no sábado e domingo, foram suspensos. Até o momento não há data definida para o desfile.
Depois das confusões do bloco na Boa Viagem, na semana passada, nos foi exigido documentos de autorização, como da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Esse problema do bloqueio dos batalhões potencializou essa questão e resolveram cancelar a festa. Fiquei muito triste com essa notícia, ainda mais que o bloco estava sendo muito esperado. Mas vamos remarcar para o próximo dia 4 de março, comentou um dos fundadores do bloco, Leonardo Batalha, 45 anos.
Bonificação da Prefeitura
A Câmara Municipal de Niterói vai analisar, a partir do próximo dia 15, na abertura do ano legislativo, mensagens executivas para a área da segurança pública. Entre as propostas, convênio do governo com as polícias Militar e Civil para a concessão de ajuda de custo de R$ 3,5 mil para os agentes que atuam na cidade. Outras duas mensagens-executivas têm como objetivo beneficiar os guardas municipais.
As propostas serão encaminhadas pela Comissão de Constituição e Justiça e Redação Final, que depois, as passarão para as demais comissões, até os projetos serem levados à votação em plenário. Entre as comissões que analisarão os projetos está a de Segurança Pública, presidida pelo vereador Renato Cariello (PDT), policial militar e da base governista.
Os policiais civis e militares já recebem outros benefícios no município. Entre eles, um bônus de R$ 1,5 mil por agente, pelo cumprimento de metas de redução de índices de criminalidade para policiais, a cada trimestre. Graças a um programa municipal.
Em relação aos guardas municipais, as mensagens propõem que os agentes sejam incluídos na premiação por desempenho que já é concedida aos policiais militares e civis que cumprirem as metas de redução da criminalidade e a incorporação ao Plano de Cargos e Salários da categoria a concessão do auxílio-uniforme, dando mais segurança jurídica à medida. O valor anual será de R$ 1 mil por profissional, pago em duas parcelas semestrais de R$ 500.
Pelas redes sociais, o prefeito Rodrigo Neves comentou sobre o projeto.
Vamos reforçar ainda mais trabalho da nossa Guarda Municipal. Na abertura dos trabalhos na Câmara Municipal de Niterói, enviaremos duas mensagens para que isso seja concretizado: uma instituindo o auxílio fardamento da GM através de lei e a inclusão da corporação no programa de metas. Queria também prestar minha solidariedade aos policiais, que passam por dificuldades, mas estão sempre contribuindo com a segurança de nossa cidade, argumentou o prefeito.