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Uma das formas mais inteligentes de se ensinar cidadania a crianças e adolescentes em vulnerabilidade social é por meio da capoeira. A arte mistura luta e dança, possui origens no continente africano e tomou forma no Brasil. Na comunidade do Morro da Penha, na Ponta dAreia, região Central de Niterói, o projeto Comunidade na Ginga atua há mais de 20 anos.
A história da iniciativa é tema desta reportagem, que faz parte da série de A TRIBUNA sobre projetos que apoiam crianças e adolescentes na cidade. O fundador do Comunidade na Ginga é José Roberto Soares, de 59 anos, mais conhecido como Mestre Juquinha. Ele explica que sua história com a capoeira coincide com a de sua vida, praticando a arte há aproximadamente 5 décadas.
"Comecei com a capoeira na década de 1970. Ao longo do período de aprendizado, depois de mais de 20 anos nessa correria, comecei com outros amigos na comunidade, e iniciamos o projeto. Eles tiveram outros compromissos, saíram e fiquei só, resgatando as crianças. Minha esposa, na época, produzia uniformes usando sacos de farinha e a gente dava para as crianças treinarem", explicou.
Juquinha faz questão de externar a satisfação em, ao longo de cerca de 25 anos da fase atual do projeto, ter ajudado tantas pessoas a seguirem pelo caminho do bem. Atualmente, as aulas acontecem em diferentes pontos do bairro. Na quadra do Morro da Penha, na Praça Dr. Vitorino ou na sede da associação de moradores.
"O projeto foi crescendo, formamos vários grandes chefes de família, pessoas responsáveis no trabalho e fico feliz com isso. Na nossa fase atual, fizemos 25 anos em setembro. Atualmente, as aulas são nas quadras da pracinha, do Morro da Penha e na Associação de Moradores", explicou Juquinha.
As aulas são frequentadas por aproximadamente 20 crianças, mas o mestre pontua que cerca de 40 fazem parte do projeto, mas em sempre todos conseguem estar presentes ao mesmo tempo. O projeto acontece três vezes por semana.
"As aulas são feitas segundas e quartas na quadra do Morro da Penha e as quintas, na pracinha ou na beira do cais em frente ao quiosque. Atualmente, temos entre 15 e 20 crianças, mas, em média, chegamos até 40 crianças. Nem todos conseguem ir sempre por conta de uma série de motivos", prosseguiu.
Assim como a maior parte dos projetos retratados na série, o apoio é escasso. O fundador do Comunidade na Ginga afirma que conta com a ajuda de pais de alunos, que pagam uma taxa simbólica para a produção dos uniformes. Além disso, os aulas precisam ser realizadas nas quadras diante da falta de um espaço adequado.
"O apoio é mínimo. Só os pais que ajudam com alguma coisa. Tenho que tirar do meu bolso material para as crianças. É cobrada uma taxa simbólica, mas infelizmente não temos apoio nenhum. A associação de moradores quando pode ajudar, ajuda. Infelizmente muitos só prometem, mas não ajudam. Faço isso porque gosto muito, fui educado e instruído para isso pelo meu pai e pelo meu mestre", frisou.
Mesmo com a flexibilização das medidas de prevenção e combate ao coronavírus, o mestre destaca que continua seguindo os protocolos sanitários, com as aulas sendo realizadas em locais abertos e mantendo o distanciamento social. Ele acrescenta que, aqueles que desejarem participar ou colaborar com o projeto, podem entrar em contato através do e-mail [email protected] ou no telefone (21) 9.9093-9558.
"Eu espero, daqui para frente, expandir o projeto para outros lugares. Aqui pela redondeza há vários outros projetos voltados para capoeira. Minha expectativa é ampliar esse trabalho, ter um núcleo, um lugar próprio e principalmente nas comunidades e mostrar às pessoas que a comunidade precisa de um apoio maior, dentro da sociedade", concluiu.