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Arraial do Cabo: Sublime Beleza
Arraial do Cabo: Sublime Beleza
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Por: Not found author Data da Publicação: 13 de fevereiro de 2022FacebookTwitterInstagram
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Não é à toa que cresce, a cada dia, a preocupação com a preservação ambiental da Região dos Lagos do estado do Rio, que luta para minimizar a nefasta presença do narcotráfico, milícias e outras doenças urbanas que foram exportadas para lá a partir dos anos 1960.

Mais do que manter acesa a indústria do turismo, o meio ambiente sadio garante a sobrevivência de milhares de pessoas, outras espécies e, sobretudo, de um dos mais lindos mares do mundo. Não é exagero. Cientistas brasileiros, franceses, alemães, norte-americanos não param de citar a beleza e saúde do mar de Arraial do Cabo, dono de um azul único, raro, graças a passagem de correntes marítimas e fenômenos bioquímicos naturais.

“Mergulhar em Arraial do Cabo é uma experiência inesquecível. A sensação é de que estamos visitando a alma dos mares”, me disse o ator, mergulhador e um dos primeiros surfistas do Brasil Arduíno Colassanti, um apaixonado por Niterói.

Arduíno vivia feliz por muitos anos em Jurujuba e morreu em 2014, comovendo os mundos do cinema e do mar. Quando esteve com o lendário oceanógrafo francês Jacques Cousteau (1910-1997) Arduíno mostrou imagens de Arraial do Cabo. Em 1992 Cousteau esteve na Eco 92, no Rio, onde fez um desabafo dramático:

“A poluição é geral. Os homens não se dão conta de que as substâncias poluidoras vão parar no mar. E os elementos nocivos que os homens não levam ao mar são carregados pelas chuvas. A pesca em excesso ou não planejada também é uma forma de destruição. Os oceanos estão sendo dizimados. As ovas e as larvas estão desaparecendo. Em outras épocas, o mar se renovava, os ciclos de evolução se completavam, mas esse equilíbrio desapareceu com a industrialização", alertou o oficial da Marinha francesa, antes de completar. "Os oceanos estão moribundos, por culpa dos homens, e a espécie humana não pode sobreviver sem os oceanos".

Arraial do Cabo não está fora da zona de risco. Afinal, a proliferação de construções irregulares, a presença nefasta das milícias da desordem urbana mantém acesa a ameaça, mas o mar continua com o seu enigmático azul. Um convite escancarado para o mergulho, que pode ser praticado por qualquer pessoa que busque o aprendizado com os profissionais que trabalham lá.

São dezenas de escolas e mergulho com barcos e equipamento completos. Atendem a todos os níveis, desde quem nunca praticou até os veteranos.

O município traz em sua história prováveis explicações para a cor do mar, o tal azul raro. Após decidir se separar do resto da frota da segunda expedição à costa brasileira, Américo Vespúcio navegou rumo ao sul, chegando à Praia da Rama - atualmente conhecida como Praia dos Anjos - aí ancorando logo em seguida. Em Arraial ele escreveu: “Se não cheguei ao Paraíso, certamente estou bem perto”.

Ao lugar, deu-se o nome de Cabo Frio, devido a fatores que, de certa forma, fascinaram os navegantes como correntes marítimas locais que tinham uma temperatura substancialmente mais fria que as temperaturas normais das águas da costa brasileira (atualmente esse fenômeno é conhecido como ressurgência); os ventos constantes eram, também, muito mais frios do que no resto do litoral, dando a impressão de que a temperatura local fosse mais baixa do que realmente era; as condições do tempo mudavam rapidamente no local, passando subitamente de um dia ensolarado para um dia nublado, com alta possibilidade de formação de nevoeiro e, em alguns casos, agitando o mar.

Américo Vespúcio decidiu, então, construir um forte no local (cujas ruínas permanecem no local, acessível por trilha entre a Praia do Forno e a Prainha), onde ele deixou 24 homens com armas e mantimentos. Posteriormente, foi construída feitoria em local próximo. Mas o local exato ainda não foi definido. Para alguns, ela está localizada no próprio Arraial do Cabo, para outros, em Cabo Frio. Mas é certo que essa foi, de fato, a primeira feitoria no Brasil.

Provavelmente como consequência do estabelecimento dessa feitoria, começou a se desenvolver em Arraial um modesto povoamento, sendo esse um dos primeiros (possivelmente o primeiro) em território brasileiro. Ainda é possível ver, na cidade, a primeira construção de alvenaria da terra recém-descoberta, a "Casa da Piedra".

Existe na cidade um marco histórico que lembra a visita de Américo Vespúcio nesta época. Composto de um obelisco, um poço, existente desde então e uma placa resumindo parte da história local.

Durante séculos, a cidade seguiu sua vocação natural como vila de pescadores, mas foi na primeira metade do século XX, em 1943, com a implantação da Companhia Nacional de Álcalis, que a economia local foi impulsionada e começou o inchaço populacional. A fábrica produzia barrilha, matéria-prima para fabricação de vidros. A oferta de emprego aumentou. Mão-de-obra qualificada da unidade da Álcalis no Rio Grande do Norte foi trazida para a cidade e as ofertas de empregos acabaram trazendo trabalhadores de outras regiões. Isso contribuiu para a consolidação e para o crescimento da cidade e, posteriormente, a favelização.

Durante anos, Arraial do Cabo pertenceu a Cabo Frio, sendo seu principal distrito. Em 13 de maio de 1985, a cidade teve sua emancipação assinada pelo então governador Leonel Brizola. Hoje, o município de Arraial do Cabo compreende os distritos: Monte Alto, Figueira, Parque das Garças, Sabiá, Pernambuca, Novo Arraial e Caiçara.

As praias de águas transparentes e areia muito branca tornam sua costa num dos locais brasileiros mais propícios para a pesca submarina e mergulho. A abundante fauna marinha é decorrente da ressurgência, um fenômeno oceanográfico que consiste na subida de águas profundas e ricas em nutrientes para regiões menos profundas do oceano. As principais praias são: Praia dos Anjos (onde se localiza o Porto do Forno), Praia do Forno, Praia Grande, Prainha, As Prainhas do Atalaia, Praia da Ilha do Farol (eleita em 2000 a praia mais perfeita do Brasil pela Revista Veja), Praia Grande, Praia do Monte Alto, entre outras.

O município também conta com uma área preservada pelo Ibama a restinga de Massambaba (estreito pedaço de terra banhado a sul pelo Oceano Atlântico e a Norte pela Lagoa de Araruama), onde são encontradas as mais exóticas orquídeas do mundo. A área é frequentemente invadida por milicianos que destroem tudo para construir casas clandestinamente, como ocorre na Zona Oeste do Rio.

Os especialistas em segurança pública dizem que só uma grande operação conjunta envolvendo Polícia Federal, Exército e Marinha, fazendo uma profunda varredura para libertar a Região dos Lagos das organizações criminosas, pode livrar Arraial de um futuro sombrio.

Há quem tenha esperança de que haverá um final feliz para este santuário ecológico.

Luiz Antonio Mello

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