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No último dia 2, as aulas no CIEP 453 Doutor Milton Rodrigues Rocha, em Manilha, foram interrompidas por uma prática que, infelizmente, está se tornando comum dentro das escolas: o bullying. Um adolescente de 15 anos foi covardemente agredido pelos colegas de turma e o resultado foi trágico. O rapaz teve o braço e punho esquerdos quebrados e no próximo dia 16 terá mais uma consulta no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, em São Gonçalo, para o médico analisar os exames e decidir se o tratamento será cirúrgico ou não. Enquanto se recupera em casa, o jovem tenta esquecer o que aconteceu e seguir a rotina dentro da normalidade, ainda longe da escola.
O adolescente usa óculos com um grau forte, o que limita a sua visão, e durante a aula de educação física, no dia 20 de fevereiro, ele tirou o acessório para jogar bola. Mas quando acabou a aula ele não encontrou seu óculos e os colegas também disseram não ter visto os óculos dele. O jovem teve que ligar o pai e pedir ajuda para ir embora da escola por conta da dificuldade visual, e o pai foi buscá-lo. A direção foi comunicada do sumiço do acessório, mas não conseguiu encontrar o objeto. Ele foi embora descalço junto com pai para sua casa no mesmo bairro, em Manilha, onde mora com o irmão mais velho de 18 anos. A noite ele foi se arrumar para ir à igreja e ao calçar o tênis, achou os óculos dentro da meia.
O problema não acabou aí. Ele contou para uma amiga de turma o que tinha acontecido e disse que iria na direção da escola avisar que tinha encontrado os óculos.
Essa amiga printou a conversa e jogou em um grupo de conversas na internet e alguns alunos fizeram ameaças dizendo que ele estava louco e que tinha escondido o próprio óculos. Que ele levaria uns pescoções (tapas no pescoço) quando chegasse na escola. Com essa atitude eles quebraram o braço e o pulso do meu filho, contou o pai do jovem, o autônomo Luis Fernando Menezes, 46 anos.
A agressão aconteceu no dia 2 de março por volta das 13h30min, na volta do recesso do Carnaval, dentro de sala de aula onde iria começar a aula disciplina de sociologia.
A professora não estava em sala de aula. Ela disse posteriormente que foi na direção pegar o diário, mas alunos disseram que ela nem tinha entrado na sala. Ele apanhou e caiu no chão onde aconteceu a lesão. Ele ficou cerca de 25 minutos caído e ninguém da escola o ajudou. Me ligaram, do telefone do meu filho, e eu tive que ir dirigindo para a escola. Eu mesmo peguei meu filho no chão e levei para o hospital no meu carro, contou o pai que cria sozinho os dois filhos.
Essa falta de apoio no socorro do filho foi o que motivou o autônomo a processar o Governo do Estado. De acordo com uma publicação em suas redes sociais ele diz:
Acho ue tinha que ter um profissional preparado pra esse tipo de situação pra socorrer imediatamente. E aí sim, após os primeiros socorros, faria contato com o responsável pra comunicar o fato e dizer pra onde o levaram. Vou mover tudo dentro da lei e entrar com todos os recursos cabíveis pra ser reparado os danos, erros e despesas. Lamentável, porém pedidos de desculpa, perdão e etc. Não vão tirar a dor e o sofrimento que meu filho e eu estamos sentindo. desabafou.
O caso foi registrado na 71ªDP (Itaboraí) e o adolescente passou por exame de corpo de delito. O pai também entrou com processo contra o Estado e agora aguarda a recuperação do filho.
Ele ainda não consegue ir para a aula, mas já me disse que vai querer voltar para a escola e está somente com medo de alguma represália. Ele é um menino muito bom e de coração puro. Alguns amigos estão ajudando ele a estudar em casa para não ficar muito atrasado na escola, contou.
Após o ocorrido, Luís contou que alguns pais ligaram para ele e se desculparam pelas atitudes dos filhos. E no meio desses contatos, um fato curioso chamou atenção do itaboriense.
Um grande amigo da minha igreja bateu no meu portão e quando eu abri ele estava em prantos chorando. Me pediu perdão e disse que não sabia como fazer para pedir desculpa pelo que o filho dele tinha feito. Eu disse que nós não podemos responder pelas atitudes dos nossos filhos e dei um longo abraço naquele pai que também estava sofrendo assim como eu, contou.
No dia seguinte o pai de um dos meninos que agrediram o adolescente voltou na casa de Luis, dessa vez com o filho.
Os amigos de classe se abraçaram e choraram. Nós, os pais, choramos assistimos esse arrependimento. Nunca pensei em passar por uma situação dessa, contou emocionado.
A Secretaria de Educação (Seeduc) informou que lamenta profundamente o caso ocorrido e em decorrência do fato, três alunos foram transferidos e a professora recebeu uma advertência. A pasta informou ainda que a direção da unidade escolar está dando o suporte necessário à vítima e reforçou o repúdio a qualquer ato de violência e o compromisso em combater este mal na rede estadual de ensino. Mesmo a escola sendo do âmbito estadual a Prefeitura de Itaboraí também se sensibilizou com a história e informou que repudia toda forma de bullying. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social entrará em contato com o aluno para prestar assistência.
A 71ª DP foi procurada pela equipe de reportagem, mas não retornou os contatos.