Augusto Aguiar -
A mais nova ameaça à segurança do estado, a chamada fusão de facções criminosas, também já começa a ser percebida, monitorada e temida nas cidades de Niterói e São Gonçalo. A raiz do problema estaria a aproximadamente 600 quilômetros do Rio, na cidade de São Paulo, onde lideranças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) decidiram se expandir para comunidades cariocas, agravando a séria crise na área de Segurança, aproveitando-se da violenta disputa existente pelo controle da venda de drogas entre as facções daqui, Terceiro Comando Puro (TCP), Amigos dos Amigos (ADA) e Comando Vermelho (CV).
Não demorou para a ligação perigosa ser adotada em diversas comunidades no estado, já que TCP e ADA seriam rivais do CV. Esta última facção é apontada como dominante na maior parte das localidades onde o tráfico impera. Eles (bandidos oriundos de São Paulo) passaram a investir dinheiro, drogas e armas em redutos do crime no Rio e Região Metropolitana, sobretudo junto a lideranças do então TCP e ADA, intensificando ainda mais a violenta disputa pelo controle de localidades contra o CV, que antes expandia o domínio e o território. A presença do PCC em comunidades do Rio foi aceita por líderes de tráfico do estado e está se espalhando rapidamente, assustando moradores de comunidades e modificando até as antigas siglas, explicou um policial militar, que solicitou anonimato.
A verdade é que já existem informes dando conta que em Niterói antigos e violentos rivais do tráfico, como no complexo de comunidades do Morro do Estado, no Centro, e Morro do Palácio (no Ingá) já teriam se unido em torno da nova sigla, com a influência paulista do PCC, surgindo o Terceiro Comando dos Amigos (TCA), ou seja, a fusão teria sido concretizada, o que representa, segundo fontes policiais, maior poderio de armamento, entre outros fatores que despertam o alerta nas autoridades. No Morro do Estado, vale registrar que policiais civis obtiveram êxito e efetuaram diversas prisões, praticamente desarticulando a venda de drogas na localidade. Nesse caso, a chegada possível chegada do TCA no conjunto de comunidades não teria encontrado resistência.
A mesma fusão de facções também teria acontecido na Zona Norte de Niterói que, mesmo antes, devido à incidência de ocorrências policiais, teria sido apelidada de Fonsequistão. Por lá, moradores, que temem por represálias do tráfico, afirmam que em comunidades como Santo Cristo, Morro das Palmeiras, Favela Coronel Leôncio e Morro do Pimba os bandidos já se autodenominariam TCA, quando anteriormente os traficantes eram ligados ao Terceiro Comando Puro (TCP) e ou Amigos dos Amigos (ADA). Vocês ainda falam que as facções do tráfico nessas comunidades seriam do TCP e ADA. Isso já mudou. Agora, os traficantes afirmam que quem não é CV, é TCA. Se não mudar, eles invadem e tomam o controle na força, disse um morador de uma dessas comunidades. De acordo com a mesma fonte, o tráfico (pelo menos nas comunidades da Zona Norte de Niterói), por conta da chegada e influência do PCC na região (agora como TCA), a tentativa de unificação do controle da venda de drogas pelo CV ficou mais difícil e a rivalidade só aumentou. O fato preocupa as polícias Civil e Militar. Uma fonte da Polícia Civil revelou que no mais recente ataque, ocorrido entre o fim da noite de domingo e a madrugada de segunda-feira passada, quando traficantes fortemente armados atiraram e lançaram bombas da Favela Coronel Leôncio (Engenhoca) em direção à Nova Brasília (CV), os mesmos já estariam sob influência e cumprindo determinações de bandidos do TCA (PCC).
Além da Favela Nova Brasília, as comunidades controladas pelo CV seriam Vila Ipiranga, Morro do Pimba, Morro do Bumba (Viçoso Jardim), Morro dos Marítimos (Barreto), Travessa Bernardino (Fonseca), Morro do Eucalipto (Fonseca), Morro do Serrão (Cubango), Morro Juca Branco (Cubango) e Complexo do Caramujo. Em qualquer uma delas existe a possibilidade de invasão. O último informe dava conta que o tráfico no Morro Boavista (São Lourenço) ainda seria controlado pela ADA e TCA ainda não teria chegado. Policiais civis adiantaram ainda, com base em trabalho de levantamento, que traficantes fortemente armados do TCA, vindos da Zona Norte do Rio (Morro da Pedreira/Complexo do Chapadão), teriam sido abrigados por comparsas aliados de mesma facção na Zona Norte de Niterói. Daqui, partiram para ataques contra rivais do CV (ocorrido nos últimos dias) em redutos situados no bairro Vila Candoza, em São Gonçalo. Pelo menos quatro mortos foram registrados nos violentos confrontos, sendo que uma das vítimas teria sido decaptada.
Antes mesmo da chegada do PCC à Região Metropolitana, há quase dois anos, o Ministério Publico do Rio (MP-RJ) já havia denunciado, em setembro de 2015, vários traficantes de Niterói. Através da 7ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal, 28 traficantes que agiam na comunidade do Bumba, divisa com São Gonçalo, foram denunciados por outro tipo (e curioso) de negócio criminoso. Além de praticarem crimes como roubos de carros, latrocínios e homicídios, o líder do tráfico recebia uma espécie de mesada na prisão daqueles que assumiram o controle do tráfico na região. Ainda segundo o processo, a quadrilha que controlaria parte do crime organizado em Niterói e São Gonçalo teria arrendado a comunidade a outro bando pelo valor de R$ 5 mil por semana. Os arrendatários podiam explorar o faturamento da venda de drogas na localidade.