Réu por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Hudson Braga, ex-secretário de Obras do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), disse nesta terça-feira (02), em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, que ficou, em 2014, com R$ 3 milhões de sobras de campanha, arrecadados via caixa 2, do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Ele foi coordenador da campanha.
Braga fez a afirmação ao se referir à transportadora de valores Transexpert, apontada nas investigações como caixa-forte do esquema de corrupção liderado por Cabral. Os R$ 3 milhões foram guardados pela firma. Segundo a Procuradoria da República no Rio, ele era um dos cabeças da organização criminosa tocada por Cabral em seus dois mandatos no governo do Estado (2007 a 2014) em conluio com grandes empreiteiras.
O ex-secretário confirmou operar uma taxa de oxigênio própria, para além da taxa do esquema do então governador. Recebia 1% dos contratos de obras de vulto fechados pelo Estado; por exemplo, o do PAC das Favelas. O valor era fixo e chegava mensalmente, afirmou.
A propina, conforme as investigações, era paga por empresas como a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a Carioca Engenharia e a Delta Engenharia, entre outras. No entanto, Braga só respondeu a questionamentos sobre a Andrade Gutierrez. Estou disposto a colaborar, quero abrir. Mas não é o momento, disse. Eu errei e estou arrependido. Minha família me cobra muito isso. O juiz Bretas lhe perguntou se ele havia recebido ameaças ao longo do processo e ele revelou, sem dar mais detalhes: Não estou tranquilo.
O ex-secretário afirmou ainda que não foi o criador da chamada taxa de oxigênio da organização de Cabral e sim o então secretário de Governo de Cabral, Wilson Carlos. Ele afirmou ainda que a justificativa para o esquema de propina era que o salário dos servidores da Secretaria de Obras era baixo, sendo necessários aportes maiores.
O juiz Bretas perguntou se Cabral estava ciente dos pagamentos, e o antigo colaborador do governador não respondeu. A taxa iria para presidentes de empresas vinculadas (à Secretaria de Obras), subsecretários, superintendentes, assessores especiais e outras pessoas, cujos nomes ele deu a entender que poderá revelar futuramente.
O ex-secretário estaria negociando acordo de delação premiada. Especula-se que ele detalharia pagamentos de propina a Pezão, sucessor de Cabral. Braga foi subsecretário da pasta quando Pezão era titular, cargo que acumulava com o de vice-governador. O juiz Bretas já ouviu ontem o empresário Paulo Fernandes Magalhães Pinto, um ex-assessor de Cabral apontado como laranja do ex-governador nas investigações. Ele está em prisão domiciliar. Outros réus serão ouvidos nos próximos dias.