Marcelo Macedo Soares -
Um relato feito pelo vereador e policial federal Sandro Araújo (PPS) em uma rede social não agradou à Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), que enviou um ofício à Câmara Municipal de Niterói solicitando a abertura de processo para apurar uma possível falta de decoro por parte do parlamentar. A iniciativa gerou indignação dentro de outras entidades da PF, como a Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef), entidade que representa mais de 14 mil policiais em todo o Brasil, que promete reação à comunicação enviada ao Legislativo niteroiense.
No dia 5 de julho, o presidente da ADPF, Edvandir Felix de Paiva, enviou um documento ao presidente da Câmara de Niterói, Paulo Bagueira, solicitando a abertura de processo contra Sandro Araújo para apurar suposta falta de decoro. O motivo, segundo o documento, foi uma postagem realizada em uma rede social na qual Sandro critica uma ação da Polícia Federal realizada em Santa Catarina, e que teve como alvo o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Segundo Araújo, por conta da ação injusta, arbitrária e equivocada da Polícia Federal, Luiz Carlos acabou tirando a própria vida.
Minha prece hoje é por Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Reitor da UFSC que tirou a própria vida após ser preso de forma INJUSTA, ARBITRÁRIA e EQUIVOCADA pela Polícia Federal. A responsável pelo ERRO CRASSO não foi tocada e segue com sua carreira, diz um trecho da publicação de Sandro Araújo no Facebook.
A ADPF não gostou e pediu a abertura de processo na Câmara. No documento, a Associação alega, entre outras coisas, que o vereador ofende e difama a classe dos Delegados de Polícia Federal e da própria instituição Polícia Federal. Deve-se asseverar que o mencionado vereador, de forma gratuita e irresponsável, proferiu impropérios inclusive sobre operações policiais decorrentes de procedimentos penais, ainda em andamento, oriundos de outras unidades da federação, aos quais o sequer teve acesso ou participação.
Apesar de o ofício ter sido protocolado na Câmara de Niterói no dia 11 de julho, Sandro Araújo afirmou que só tomou conhecimento do documento na última terça-feira (7). de acordo com o vereador, o pedido foi prontamente rejeitado pelo presidente Paulo Bagueira. O parlamentar classificou como absurda a tentativa da ADPF de interferir no Legislativo.
Trata-se de uma tentativa clara e brutal de censura, por parte de uma entidade privada. Nada mais é do que uma iniciativa grotesca tentando aplicar a lei da mordaça. Não falei mau de nenhum delegado e vou continuar defendendo minhas ideias seja na tribuna ou nas redes sociais. Vivemos numa democracia e não vão mudar minha conduta, que nunca foi de depreciar nenhum profissional e muito menos a instituição. O que me causa espanto é esta entidade privada se achar no direito de intervir no processo legislativo de Niterói, o que não tem menor cabimento., afirmou Araújo.
O presidente da federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef), Luís Antônio de Araújo Boudens, saiu em defesa de Sandro e classificou como absurda a comunicação enviada à Câmara de Niterói. Ele disse que a Fenapef vai reagir à altura e que se reunirá nos próximos dias com o diretor-geral da PF, Rogério Augusto Viana Galloro, para tratar do assunto.
Foi um ato absurdo contra a liberdade de expressão tomada por esta associação, que é uma das menores e não possui grande representatividade junto aos servidores da Polícia Federal. Trata-se de um grupo pequeno, que age sempre em benefício próprio. Estarmos tomando todas as providências para reagir à altura a esta comunicação que foi no mínimo precipitada e fere os princípios constitucionais, afirmou Boudens.